O sentido da dignidade humana
O ser humano é dotado de uma matéria e é também nessa e através dessa matéria que se cumpre.
Toda a pessoa tem uma dimensão biológica, física. Mas também social, emocional e transcendente. Cumprimo-nos na relação com os outros e é nessa relação que direitos e deveres estão presentes.
Sairmos de nós e ir ao encontro de qualquer outro é um imperativo para a existência. Aliás, amar é isso mesmo e é no amor que nos cumprimos. Na doação. Na verdade, muito do que nos constrói enquanto pessoas deriva da relação interpessoal. Qualquer um de nós que viva somente para si mesmo corre o risco de aniquilar a própria vida, de a asfixiar. Esta torna-se espaço de fecundidade sempre que é transformada em entrega aos outros.
Pensar a dignidade humana é pensar nos princípios da relação humana, onde cada um é tido como ser único e irrepetível. Nem mais e nem menos que qualquer outro. Habituados que estamos em termos históricos e sociais a estratificar o mundo em classes, em pobres e ricos, velhos e novos, altos e baixos, gordos e magros, figura pública ou anónima, corremos o risco de remeter a dignidade humana para uma gaveta e utilizá-la sempre que os nossos interesses o pedirem e menos quando cada pessoa o reclama.
No dia em que se celebra o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, cumpre-nos reflectir se enveredamos esforços para criarmos laços no sentido de atingirmos os objectivos comuns contemplados neste documento. A dignidade humana não pode estar refém se uma doença, do envelhecimento, de uma deficiência, orientação sexual, cor da pele ou religião.
Cada um de nós vive plenamente a sua dignidade quando é acolhido e respeitado pelos demais na sua singularidade, na sua história, nas suas memórias, sem criarmos parâmetros do mais ou menos digno.
Estou em crer que o “paz na terra aos homens por Ele amados”, terá sido para todos os homens e mulheres de todos os tempos, culturas e geografias.
Cumprir os princípios contemplados nos direitos humanos é cumprir os princípios da dignidade humana.
Num tempo que nos pede uma maior atenção a cada pessoa, como tem sido a minha vida para que a dignidade humana se cumpra em mim e à minha volta?