Com que disponibilidade quero nascer?

Crónicas 24 dezembro 2020  •  Tempo de Leitura: 2

Lembro por estes dias uma história para crianças vista há já alguns anos, “Kirikou e a feiticeira”, passada na África Ocidental. Nas delícias desta história temos o seu início em que a criança, ainda dentro do ventre de sua mãe, lhe diz:

 

  • Mãe, quero nascer!

Quantos nascimentos temos ao longo da vida? E qual a minha disponibilidade para nascer?

 

Um nascimento não é só um acto biológico, de expulsão de um ser humano é concebido no ventre. É a certeza de que o sonho de Deus para a Humanidade acontece sempre que é gerada uma nova vida.

 

E esse sonho é tanto mais real quanto faço da vida uma novidade constante e nela me renovo e por ela agradeço em cada dia. E a vivo em autenticidade.

 

Poderemos correr o risco de deixar passar a vida ao lado ocupando-a em aspectos muito superficiais:

 

damos palmadinhas nas costas uns dos outros, mas não abraçamos com acolhimento total; lambemos sapatos, mas é-nos difícil calçar os sapatos dos outros, num verdadeiro acto de empatia;

 

abrimos a porta aos nossos interesses, mas não acolhemos um imigrante o refugiado;

 

cumprimentamos os engravatados e vestidos de marca, mas demarcamo-nos com a indiferença quando passamos na rua por uma pessoa em situação de sem abrigo;

 

vociferamos palavras de revolta diante de um ecrã, mas perdemos a consciência de cidadania e participação quando nos cabe eleger alguém;

 

umbigamos sobre as nossas necessidades e esquecemos que perto ou longe vivem pessoas em extrema vulnerabilidade;

 

semeamos identidades individuais e esquecemos o bem maior de toda a Humanidade e da Criação. 

 

Gestos que cabem sempre na vida, são aqueles que me fazem nascer a mim e a cada pessoa, em cada dia.

 

Até onde estou disposta a nascer?

 

Que seja Natal! 

Cristina Duarte

Cronista

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