Só por isto
Via-a.
Via-a da varanda, entre goles de café.
Os olhos acompanharam o andar e o pensamento ia juntando letras que formavam palavras para entender.
Levava na mão uma bucha de pão que metia à boca de quando em vez.
Na outra, segurava a pá e a vassoura. E um balde.
E caminhava, apressada, ao lado da colega.
Vi-a.
Tinha no queixo a sua máscara e um avental ao peito.
E no ventre, um novo ser em gestação.
A tez da pele fez-me viajar até à América Latina.
O que não é difícil, por estas paragens.
Adivinhei-lhe o passo rápido, por ir para o trabalho.
Mais um turno de limpezas.
Nunca saberemos totalmente os sonhos que cada pessoa transporta.
As suas lutas e as feridas da vida.
Estamos de passagem, e, só por isto, vale a pena a fraternidade.
Não há eles e nós. Os pronomes servirão para conjugação verbal.
Vale a pena a fraternidade!
Nota: Em dia da Fraternidade Humana, celebrada a 04 de Fevereiro, vale a pena a (re)leitura da carta encíclica Fratelli Tutti