Acontecemo-nos na relação
Os números podem ser frios e sem rosto quando olhamos para eles sem uma identidade.
A pobreza, a violência, as injustiças, a precaridade laboral, o medo, a insegurança, a esperança, são bem mais do que variáveis medidas em percentagens e índices. Têm rostos e vidas dentro de si.
Quanto mais perto de nós se torna o rosto representado por um número mais esse número se esfuma e é substituído pelo timbre de uma voz, o olhar, o toque, a história e a memória, sabores e odores, sentido e significado da vida.
Isso diz respeito a uma qualquer data do calendário quanto aos números que perante entidades oficiais utilizamos e nos parecem querer representar. Se as competências ligadas à matemática são essenciais, no que toca às relações significativas da nossa vida as contas nem sempre dão certo. Ainda bem que assim é.
Fomos maravilhosamente criados como parte do universo e a nossa vida é inigualável!
Reduzirem-nos a um número é dizerem-nos que somos apenas parte de uma qualquer fracção. Somos também do todo, pois cada ser, único e irrepetível carrega em si o dom e a dádiva total da vida. Na Providência, esta não tem fim.
Sermos pessoas é parte de um projecto divino e de um compromisso humano. Somos porque Alguém nos sonhou, mas somo-nos e acontecemo-nos na relação connosco e com os demais. Essa relação será tanto mais imbuída de dignidade quanto crescermos na consciência de somos dotados de uma identidade, única e irrepetível.