Com os olhos no inferno
As lágrimas são gotas de paixão pura que explodem de forma lenta nos olhos de quem sofre.
No nosso coração, damos morada a pessoas, lugares, tempos e coisas... memórias do que é, do que foi e do que podia ter sido... sonhos do que queremos, do que ontem desejámos e do que esperamos que venha a ser.
Sofre-se porque se ama, chora-se quando se vê esta vida tão frágil como ela é, nesta terra em que os males tentam, sem cessar, destruir tudo aquilo que o bem constrói.
Um inferno é uma terra onde a criação é destruída. Quase sempre resulta da vontade de alguém que prefere a guerra à paz, a escuridão à luz, o fumo a uma brisa de ar puro.
O bem renova-se sem fim. É sempre mais forte. Pode o mal arrasar, num só dia, o que o bem levou anos a erguer... mas tudo será elevado de novo, com o mesmo espírito, a mesma força e a mesma finalidade.
As emoções não são apenas o motor da maior parte dos nossos gestos, são também parte essencial dos próprios pensamentos mais complexos. Levam-nos por vezes a desanimar, da mesma forma que, em outros momentos, nos insuflam de um poder capaz de nos levantar e fazer voar por cima de qualquer abismo.
Dos pesos brutos dos nossos lutos à alegria pura de uma conquista dura... precisamos de chorar por muitas razões e emoções. E se precisamos, por isso mesmo, devemos.
Com os olhos no inferno... chora-se.
Mas quem ama e chora mantém-se sempre bem perto do céu.
[ilustração: Carlos Ribeiro]