O mundo não é cor-de-rosa
O mundo não é cor-de-rosa.
Insistem em repetir-me, às vezes, como quem tenta acordar-me para a realidade. Como quem quase parece tentar acusar-me de não ver bem. De só ver o lado bonito. Como se o lado bonito fosse o lado errado. E como se continuar a acreditar fosse sinónimo de fragilidade, de ilusão.
O mundo não é cor-de-rosa.
Eu sei. Eu também vejo. (Eu sei tanto.)
Mas eu também sei que é quando o mundo está cinzento, que um gesto de amor, mesmo o mais pequenino, lhe dá mais cor: É quando o mundo está cinzento, que um abraço que acolhe lhe dá mais cor. É quando o mundo está cinzento, que uma mão que se estende lhe dá mais cor. É quando o mundo está cinzento, que um sorriso do coração lhe dá mais cor. É quando o mundo está cinzento, que um olhar do fundo da alma lhe dá mais cor. É quando o mundo está cinzento, que uma presença que conforta lhe dá mais cor. É quando o mundo está cinzento, que alguém que faz sorrir lhe dá mais cor.
É quando o mundo está cinzento, que um gesto de amor lhe dá mais cor.
O mundo não é cor-de-rosa. Eu sei.
Mas eu também sei que é quando o mundo está cinzento, que faz tanta falta ver o lado bonito. E que é quando o lado bonito já não se vê, que faz tanta falta nós sermos esse lado bonito. Fazê-lo existir. Ser esse gesto de amor. E dar mais cor ao mundo. Todos os dias.
(Afinal, não é para isso que cá andamos?)
Talvez, um dia, continuar a acreditar possa voltar a ser sinónimo de força, de milagres a acontecer. De verdade. E de mais cores bonitas tatuadas pelo mundo.