O milagre da vida
Fernando Pessoa através do seu heterónimo Alberto Caeiro escreveu: “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.” O campo traz-nos a serenidade de estar, simplesmente estar. Estar no jardim, ouvir o vento a fazer dançar as árvores, os pássaros a cantar de árvore em árvore, as vozes das pessoas no café lá ao fundo e por vezes o som das pessoas a caminhar. Estar, deixar, por momentos, a vida a acontecer. A vida acontece em cada momento e nós entre azáfamas de rotinas, coisas para fazer e para organizar esquecemo-nos que o mais importante é ser mais como Maria e menos como Marta. Parar. Escutar. Estar. Ter o chá e um livro como companhia. Ou então só o silêncio. O silêncio é-me o paraíso é o momento em que me escuto e escuto Deus em mim. Às vezes não precisamos de companhia, música, sair e animação. Às vezes só precisamos de dar espaço a Deus, de dar tempo a Deus. Fazer silêncio em nós. Ficar a ouvir a vida acontecer. Agradecer. Simplesmente agradecer. Temos tanto. Queremos sempre mais. É bom querer mais. Tal como é bom descentralizarmo-nos do nosso mundo, dos nossos problemas e ver que há mais mundo lá fora, há mais problemas, há mais desafios, há mais soluções…há mais vida!
Quando a vida a acelera sinto que devo parar. É fácil fazer muitas coisas e eu só quero ser de Deus, ser do Amor e ser feliz. Ser plenamente. Às vezes fico só a olhar o céu, as nuvens a fazer teatro, as árvores a dançar e os passarinhos a cantar. Às vezes fico só a assistir ao milagre que é a vida acontecer mesmo à nossa frente sem darmos por isso. Subo às árvores e perco horas a escrever, ver filmes, ler livros e passear sem destino. Volto a ser criança. Volto a ser a criança cuja principal preocupação era saber qual era a forma daquela nuvem ali à esquerda e se a ovelha do principezinho tinha ou não comido a flor.
Como ouvi no filme American Beauty “Quando se vê uma coisa assim é como se Deus nos olhasse. Só por um segundo. E se tiveres cuidado, podes olhar para Ele.” No silêncio encontramos a Deus, a vida a acontecer e a verdadeira beleza. E voltando a nós lembramo-nos do que é verdadeiramente importante: permitir que a vida aconteça em nós, permitir que Deus aconteça em nós assim como a natureza acontece no mundo. A vida resolve-se sozinha.