Onde está o nós?
Onde está o nós? Tem sido uma das questões que me tem acompanhado ao longo destes dias. Depois de ter escutado o Dr. Rui Marques a falar sobre o conceito de “inverno relacional” acabei por me aperceber, de forma mais consciente, dos enormes desafios que existem ao nosso redor, que existem no nosso Mundo.
E as estatísticas ajudam-nos a compreender um pouco mais sobre este “inverno relacional”: ¼ da população mundial diz sentir-se sozinha, existe um aumento da polarização social e da discriminação, há um aumento no número de pessoas que se sentem exaustas e ansiosas, os conflitos armados subiram em grande escala no planeta e os crimes de ódio aumentaram significativamente.
Olhando para todas estas estatísticas e verificando, no meu quotidiano, a falta de relações interpessoais saudáveis, a inexistência de diálogo e da aceitação da diferença, a falta de compromisso existente nas diferentes pessoas e o desinteresse pelo sentido de comunidade, questiono-me: onde está o nós? Onde está a capacidade de nos erguermos em conjunto? Onde está a curiosidade em nos relacionarmos, em sabermos mais sobre nós e sobre o mundo através do outro? Como pode existir um “eu” se não vivermos num “nós”?
A apresentação das estatísticas e a reflexão sobre esta temática não tem como objetivo assustar-nos, mas sim em criar ação. Em criar dinamismo. Precisamos da ação para que o nosso “calor” possa resfriar este “inverno relacional”. Precisamos de construir uma cultura de proximidade, precisamos de promover ligações sociais que permitam salvar-nos (um estudo demonstrou que as cidades do Japão que tinham mais ligações sociais sofreram menos vítimas mortais no Tsunami de 2011, precisamos de estimular o pensamento crítico e a construção de relações positivas e significativas capazes de atenuar alguns impactos negativos de condições e experiências adversas.
E como o podemos fazer? Acredito que conseguimos construir este capital relacional com o compromisso daquele que se cruza comigo, com o respeito pela riqueza da diferença e com a disponibilidade e predisposição para escutar aquele que se cruza na minha vida.
Hoje, antes de voltares para o mundo do teu umbigo, questiona-te: o que serias sem o outro?