À SOLEIRA DA PORTA
Detemo-nos ali, quantas vezes, a existir, a observar. Sem participar.
As soleiras da porta são locais de indefinição. Nem se entra, nem se sai.
Observar a paisagem torna-se o exercício constante, na soleira da porta.
Existe-se. Mas não se vive.
Com a morte, acontece o mesmo. Sei que a temos como certa. E o que é certo não oferece medo. É das poucas coisas que nos une por igual, como seres: a morte. Todos a vamos ter. É certo.
Mas, o que acontece quando ela se senta à soleira da porta dos nossos mais próximos, mais queridos?
Parece que se passa só a existir e não a viver.
Recentemente a morte sentou-se á soleira da porta de pessoas que me são tão especiais. Procuro cumprimentá-la, falar com ela quando passo. E quem sabe um dia destes lhe peço que deixe a soleira da porta e vá para longe descansar. Será que a morte não se cansa de tanto trabalhar? Não tem passaporte. Entra quando quer, como quer, onde quer, em quem quer.
Porque não se lhe pede termo de identidade e residência para saber onde pára? Num sítio só.
Mas, sentar-se á soleira das portas é de muito atrevimento…
Lidar com a morte é lidar com vida, uma vida biológica que termina quando a morte bate à nossa porta mas que nos torna mais eternos quando ela passa por nós.
Por isso, quando ela se sentar à soleira da tua porta, convida-a para entrar e tem tu e eu as lâmpadas acesas que nos farão ver a Luz da Vida eterna.
Uma luz de Amor incomensurável e sem fim. È que só com a morte a VIDA tem mais sentido! Um sentido perene e de eternidade. Que esse sentido de eternidade possa ser vivido no aqui e agora. Até que chegue a nossa hora. A hora do Amor sem fim!