Maturidade espiritual

Liturgia 6 maio 2017  •  Tempo de Leitura: 4

Nos Atos dos Apóstolos são descritos pequenos episódios através dos quais se percebe como a comunidade de seguidores de Jesus foi gradualmente crescendo. Na manhã do Pentecostes, a multidão escutava o testemunho dos apóstolos e era diretamente interpelada a tomar consciência da sua responsabilidade na morte de Jesus. «Que havemos de fazer?» - interrogavam-se perante a pregação de Pedro. A resposta era clara: «Convertei-vos e peça cada um de vós o Batismo…».

Cada ouvinte era chamado a aderir, livre e conscientemente, à nova realidade que lhe era oferecida pelo sacramento que dava aceso à comunidade. Ninguém estava dispensado de fazer o seu caminho de aprendizagem e conversão pessoal iniciado pela escuta e acolhimento da Palavra. Seguindo este método, a comunidade cresceu e consolidou-se. Amadureceu enquanto grupo. Tornou-se sujeito evangelizador. Contagiou. Propôs-se mudar o mundo. Primeiro Israel. Depois o império Romano. Finalmente todos os povos e nações. Até aos nossos dias.

Assim foi. O pequeno rebanho, bem alimentado pela Palavra bela do Bom Pastor, assumiu uma atitude marcadamente missionária. Se atendêssemos aos critérios meramente humanos, diríamos que eles eram tresloucados pois desafiavam as normas vigentes e sujeitavam-se aos mais severos castigos. Às perseguições e a toda a espécie de humilhações, à tortura e à morte por amor ao Bom Pastor. Esta atitude só é compreensível se atendermos à maturidade espiritual do grupo. É um rebanho que cresce na adversidade porque permanece íntimo do Pastor. Cresce em quantidade e qualidade: «Naquele dia juntaram-se aos discípulos cerca de três mil pessoas», diz-nos S. Lucas.

A maturidade espiritual sempre foi fértil. A comunidade que não gera novos filhos é imatura e indolente. Deixou-se levar pelo espírito do mundo e refugia-se na auto-satisfação mesmo quando se considera “praticante”. Porque é imatura permanece indiferente aos apelos dos pobres e dos que sofrem. Não se compromete com os outros e vive segundo os “mínimos necessários e indispensáveis”.

A imaturidade espiritual está habitualmente associada a uma desculpabilização de si e à culpabilização dos outros: «O padre, a catequista, aqueles que lá andam… não fazem». É possível diagnosticar a origem desta imaturidade na falha em algum momento do processo de desenvolvimento espiritual: não houve acolhimento e interiorização da Palavra ou, tendo sido acolhida, não houve conversão, isto é, ela não se fez carne. Ficou apenas no plano das ideias. Uma teoria interessante. Mais uma doutrina. Uma ideologia que não modelou o sujeito a partir do modelo perfeito, Jesus Cristo. Não configurou uma nova história. É uma videira sem uvas. Uma casa sem alicerces.

O maior desafio que nos é feito hoje é o de sermos adultos enquanto discípulos de Jesus. Somos de novo uma minoria. A sociedade rege-se por valores que, em grande parte, são contrários à mensagem do Crucificado. De novo, é necessário interiorizar a Palavra de Deus e interrogar-se «que devo fazer?». Não ter medo da pergunta que nos desinstala. Porque não nos interrogarmos é permanecermos imaturos. E não basta sermos meros cumpridores de rituais. E é pouco, muito pouco, viver segundo o princípio «eu mal não faço».

No dia em que somos chamados a orar pelas vocações, quarto Domingo da Páscoa, peçamos ao Senhor que nos faça discípulos maduros e fecundos de Jesus.

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