Um caminho

Liturgia 14 maio 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Ele vai à frente e prepara-nos um lugar. Atraídos por Ele pomo-nos a caminho. Ele é o caminho. Para chegar à morada por Ele preparada temos de rejeitar alguns atalhos sedutores, veredas estreitas propostas por outros mestres. Algumas, digamos claramente, conduzem ao abismo. Há também as vias rápidas como alternativas para um homem ansioso de felicidade. Por vezes são apenas canais fechados de um labirinto sem fim.

Existem muitos modos de caminhar. O mesmo caminho é sempre feito de um modo único e irrepetível. Todos no mesmo caminho mas de modos diferentes. Mas quando caminhamos animados pela mesma fé é mais fácil superar os impasses provocados por alguma encruzilhada. Como os primeiros discípulos da comunidade dos Atos dos Apóstolos. Era ainda um grupo jovem, um corpo em rápido crescimento que dava os primeiros passos no mundo. As tensões internas surgem naturalmente. Estão associadas ao crescimento e são fator de amadurecimento quando resolvidas em conformidade com os princípios que publicamente professam. A solução para cada problema não é fruto de um exercício meramente racional, uma visão calculista, uma gestão estratégica de tipo empresarial, mas uma nova perspetiva nascida pela ação do Espirito Santo, livre e conscientemente assumida pelo grupo.

Não terá sido fácil. Também aqui o mais fácil teria sido percorrer outros caminhos: o da subdivisão do grupo e a fragmentação do corpo. Cada um para seu lado e nada de compromissos comunitários. Mais fácil mas também perniciosa seria a solução patológica do recalcamento coletivo: recorrer à autoridade para reprimir a contestação dos que se queixavam por serem vítimas de um tratamento desigual. Solução patológica ainda, tão comum nos dias de hoje, seria negar o grito dos pobres e esperar que eles, com o tempo, se calassem. Mas a pequena comunidade, em fidelidade ao Mestre, desde o início se compreendeu como serva da Palavra e dos pobres. Esta é a razão da sua existência: Ela nasce da Palavra e dela se alimenta. Com efeito, a Palavra tem um carácter performativo, dá-lhe uma identidade, coloca-a ao serviço das viúvas e dos órfãos, dos pobres e dos socialmente marginalizados, de todos os tempos e lugares.

Num fim de semana em que todos os caminhos vão dar a Fátima, ouvimos Jesus no Evangelho [João 14, 1-12]: «Eu sou o caminho…». Maria, sua mãe, percorreu este caminho. Tendo Maria como referência, procuremos avançar como humildes peregrinos, mesmo quando nos sentimos invadidos pela insegurança, pelo medo, pela vontade de parar. Nestas alturas, as palavras de Jesus hão de ecoar em nós «Não se perturbe o vosso coração…». Há um santuário, uma morada, à nossa espera.

 

Nélio Pita]

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