Liberdade

Liturgia 29 junho 2019  •  Tempo de Leitura: 3

A bandeira da liberdade é agitada com veemência nos mais diversos recantos do mundo. As grandes revoluções são fruto de uma aspiração partilhada por homens e mulheres mobilizados por um desejo coletivo de uma vida livre, que não se resigna nem se deixa amordaçar por sistemas políticos opressores, nem propostas económicas escravizantes, mesmo que se sejam revestidas de promessas grandiosas. Em cada homem persiste o sonho da poetiza:


«Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo». A liberdade é vista como a terra onde a felicidade germina. Felicidade e liberdade são duas faces da mesma moeda.


Na história da Igreja, Paulo é um tenaz advogado da liberdade cristã. Não terá sido fácil. Com efeito, a comunidade primitiva era constituída por judeus e não se compreendia sem a referência à lei veterotestamentária. Nela tudo estava regulado. Na nova ordem, porém, a leitura da realidade, a partir do olhar da fé no Ressuscitado, suscita uma problemática que, em grande parte, durante algum tempo, divide a comunidade: os preceitos antigos como a circuncisão e as restrições alimentares, entre outros, deverão ser impostos inclusive aos não judeus agora convertidos? A observância escrupulosa da antiga lei seria um requisito indispensável para a salvação?


Paulo opõe-se terminantemente aos que defendem a obrigatoriedade do cumprimento da lei. E lembra-lhes que, desta forma, voltavam a ser escravos quando, na realidade, Cristo os tinha libertado. Lembra-lhes, ainda, que a lei do amor ao próximo é o princípio que resume todas as leis. Mais tarde, encontramos ecos deste princípio no pensamento de autores como Santo Agostinho, no famoso axioma «ama e faz o que quiseres». Portanto, «se calas, cala por amor. Se falas, fala por amor. Se corriges, corrige com amor. Se perdoas, perdoa com amor. Põe no fundo do coração a raiz do amor. Dessa raiz, não pode crescer senão o bem». Noutra perspetiva, São Tomás de Aquino associa o amor ao desejo de que o amado se realize plenamente: «Quero que tu sejas». Esta realização só é possível num contexto de liberdade. Percebemos então que o amor e a liberdade são elos de uma cadeia invisível que nos aproximam de Deus e do próximo. E liberdade sem amor não é liberdade, como amar sem ser livre não é amar.


Quando nos afastamos deste encadeamento, tendemos a procurar compensações legalistas como quem procura um placebo, num vão de escada, para um problema cujo diagnóstico não queremos saber. E reforçamos a maquiagem para parecermos bonitos aos olhos do mundo. Mas, no final do dia, confrontados com a nossa solidão, reconhecemo-nos escravos e infelizes. Talvez seja oportuno, nos dias que correm, orar pela liberdade, pois «foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou».

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