A janela
Ao final de cada dia, logo após a oração de vésperas, o monge de sandálias – andava sempre de sandálias – aproximava-se, a um ritmo certo, da grande janela, no fundo do coro. O Mosteiro era uma ilha de vida silenciosa. Àquela hora, as montanhas cobertas de vegetação estendiam uma crescente sombra sobre o antigo edifício erguido, alguns séculos antes, num vale fértil, junto a um pequeno riacho.
Todos esperávamos esse momento. O monge levantava uma ponta do hábito e com um pé apoiado, dava um impulso para subir ao banco encostado à parede. De baixa estatura e rechonchudo, estendia os braços para puxar o fio através do qual se enrolava uma cortina sobre a janela. O sol declinava no horizonte, manso e previsível. E naquele gesto tão simples, naquele esforço tão repetido, mas sempre necessário, a luz espalhava-se pelas paredes altas de granito, incidia sobre os recantos escondidos, dava vida às velhas imagens e iluminava, de novo, os cadeirais onde todos os dias a comunidade monástica se reunia para rezar.
Perante o milagre da luz, fechávamos os olhos. E tudo recomeçava em cada entardecer. Havia ainda muita história para escrever. Mas naquele momento era apenas o silêncio levemente estremecido pelo rugir do vento nas frechas da grande janela. Bendito seja Deus!
As mãos do monge eram herdeiras de uma antiga sabedoria. Elas condensavam o ritual de uma comunidade que, todos os dias, procurava a Luz.
No início de mais um ano, Senhor ajuda-nos a ser como esse monge.