É advento

Liturgia 30 novembro 2019  •  Tempo de Leitura: 1

As árvores permanentemente incendiadas, buquês gigantes de flores amarelas, assim permaneceram durante mais uma semana.


O vento despedaça-as
lentamente.

 

Cada folha arrancada aos finos ramos tinge de amarelo e castanho o asfaltoda praça.

 

Advento vigilante, começo desejado.

 

Advento como quem conta os dias de flores na mão, dias como muitas folhas em fim de estação, dias pequenos e famintos de sol, dias em que osbancos do jardim se assemelham a grandes desertos.

 

«A história não acaba aqui», dizemo-nos.

 

Um homem varre pacientemente aquele chão. As folhas amontoadas. Amarelas, castanhas, negras como o alcatrão. Continuam a cair, libertam-se, dançam no ar como se fossem flocos de neve. Caem lentamente. E as crianças brincam entre folhas amarelas e castanhas.

 

«Não fica por aqui…», dizemo-nos, nostálgicos, enquanto contemplamos a chuva de coloridas folhas inúteis, as mesmas que nos tinham oferecido generosa sombra durante o tempo quente.

 

Recordamos uma cena de verão. Interrogamo-nos de novo. Qual é a lição da natureza? Custa-nos muito. Resistimos. Adiamos o assunto. Até amanhã de outono. Enquanto observamos o lento despojamento das árvores, acabamos por admitir: «Isto não fica por aqui. Eu também sou uma folha».


Contemplamos
o arrastar das folhas mortas embaladas pela vassoura que encaminha e recolhe o que já cumpriu a sua função.

 

O chão reaparece. Limpo.


Num canto as
folhas recolhidas. Ao lado, as crianças brincam como se fosse a primeira vez. Algo de extraordinário pode acontecer. Esperamos. Acreditamos. Renovamo-nos. É advento.

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