A última vela
«A quarta vela está nas mãos de José». Ele traz consigo a pequena chama da esperança, protege-a com uma mão grande, defende-a do vendaval e, através dela relê de novo a natureza de um sonho. Tudo poderá ser diferente. Uma novidade extraordinária. O desejado irá acontecer. Tudo será possível. O homem reinterpreta o sonho como se fosse a primeira vez.
Deus insinua-se inesperadamente. A trémula luzinha persiste num mar escuro de uma prolongada noite. Ela quase se apagara com a reação primária e instintiva. A noite ofereceu-lhe o sonho e, nele, a certeza do caminho com Maria, para que Deus, luz de infinita beleza, iluminasse a história dos homens.
A luz periclitante, na noite demorada, fá-lo-á dar um passo decisivo. Agora e para sempre, José transporta a última vela do advento. É um homem silencioso, de mãos abertas e olhar expectante que avança. Os seus passos são quase impercetíveis. Debruça-se e coloca-a junto ao conjunto das já acesas. A última luzinha brilha de uma forma especial. Ela confirma a chegada da Luz Maior.
Do jovem sonhador fica apenas uma sombra que a pequena chama projeta no chão, sinal de uma presença passageira, mas indispensável. José sai de cena dentro de pouco tempo. Desaparece num mistério que a eternidade nos há-de revelar.
Por agora, permanece a última vela.