Para que serve o Natal?
O que evoca o Natal para nós? O nascimento de Cristo, os presentes, uma festa familiar, as decorações das ruas, das casas? Quaisquer que sejam as imagens que nos venham à mente, elas são por vezes ocultadas pelo tumulto do comércio e da agitação. É então que, atordoados, nos perguntamos: para que serve o Natal?
Uma festa para os pequenos e pobres
O Natal é em primeiro lugar uma festa para os pequenos e para os pobres. Cristo nasceu num estábulo porque não havia lugar para Ele em lado nenhum. E foi antes de tudo aos pastores, ou seja, aos pobres, que a Boa Nova foi anunciada. Neste sentido, compreende-se porquê o Natal perdeu o seu sabor e o seu sentido nas nossas sociedades ocidentais e ricas. Pelo contrário, veja-se como esta festa irradia com mais força junto dos “frágeis” do nosso mundo. Eu constatei-o durante a minha estada em Madagáscar. E o mesmo é verdade também aqui: é por isso que gosto de celebrar o Natal junto dos prisioneiros, dos sem-abrigo, dos doentes, etc.
Para que deve servir o Natal?
Uma festa não “serve” para nada. Ela não é da ordem da utilidade nem da eficácia. A alegria não se decreta, celebra-se. A alegria do Natal dá-nos uma esperança inimaginável: Deus veio à família humana. Fez-se um de nós. Face ao absurdo da solidão, do mal e da morte, manifestou-se a vida de Deus. «Deus visitou o seu povo», diz o Evangelho. Se nós lhe dermos glória, a paz virá – é a mensagem dos anjos aos pastores de Belém. Mas se procurarmos a glória fora de Deus, então será a guerra. É o que acontece quando reinam o petróleo, o dinheiro, o poder...
Natal para crentes e não crentes
Aos crentes e não crentes desejo que se torem artesãos da paz. É o bem mais preciso, que nos foi confiado por Deus e de que somos responsáveis. Jesus é o “Príncipe da Paz” anunciado pela Escritura. Os anjos não cessam de o cantar durante a noite de Natal: «Paz aos homens!».
A mais bela recordação de Natal
Eu era padre há oito anos nos arredores parisienses. Numa tasca de Paris transformada em capela celebrei o batismo de uma antiga prostituta que acompanhei na sua conversão. É uma memória extraordinária, comovente e inesquecível. Lembro-me também de uma missa na catedral de S. João, há dois anos, onde renunciei à minha cruz para levar um bebé, Madeleine, que ainda não tinha 15 dias. Coloquei-o num presépio vivo. Que mistério a vinda de Deus! Ele tomou a forma de um pequenino, como a criança que levava nos meus braços, com uma imensa alegria.
[Card. Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon, França | In "Fêter Nöel"]