S. José: Sonhar, caminhar, cuidar

Liturgia 28 dezembro 2019  •  Tempo de Leitura: 3

O Evangelho do Domingo da Sagrada Família (Mateus 2,13-15.19-23), o primeiro a seguir ao Natal, fala de uma família guiada por um sonho. Hoje, à distância, vemos que a personagem importante daquelas noites não é Herodes, o Grande, não é o seu filho Arquelau, mas um homem silencioso e corajoso, concreto e sonhador: José, o desarmado, mais forte do que todos os Herodes.

 

E o que faz José? Sonha, estreita junto de si a sua família, e põe-se a caminho. Três ações: seguir um sonho, caminhar e cuidar. Três verbos decisivos para cada família e para cada indivíduo; mais, para o destino do mundo.

 

Sonhar é o primeiro verbo. É o verbo de quem não se contenta com o mundo tal como é. Um grão de sonho, caído dentro das engrenagens da história, é suficiente para mudar-lhe o curso. José, no seu sonho, não vê imagens, escuta palavras, é um sonho de palavras. É o mesmo que é concedido a cada um de nós, nós todos temos o Evangelho que nos habita com o seu sonho de novos Céus e nova Terra.

 

No Evangelho, José sonha quatro vezes (o homem justo tem os mesmos sonhos de Deus), mas de cada vez o anjo traz um anúncio parcial, de cada vez uma profecia breve, demasiado breve; e no entanto, para partir e repartir, José não pretende ter todo o horizonte límpido diante de si, mas só a luz necessária para o primeiro passo, a coragem que é precisa para a primeira noite, a força suficiente para começar.

 

Caminhar, é a segunda ação. O que Deus aponta, todavia, é realmente escasso, indica a direção para onde fugir, só a direção; depois devem emergir a liberdade e a inteligência do ser humano, a criatividade e a tenacidade de José. Cabe a nós estudar opções, estratégias, itinerários, pausas, medir o cansaço. O Senhor nunca oferece um prontuário de regras para a vida social ou individual, antes, Ele acende objetivos e o coração, depois confia-se à tua liberdade e à tua inteligência.

 

O terceiro verbo é cuidar, tomar consigo, apertar junto a si, proteger. Temos a narração de um pai, uma mãe e um filho: os destinos do mundo decidem-se dentro de uma família. Aconteceu então e acontece sempre. Dentro dos afetos, dentro do estreitar-se amoroso da vida, na humilde coragem de uma, de tantas, de infinitas criaturas enamoradas e silenciosas. «A tarefa suprema de cada vida é cuidar das vidas com a própria vida» (Elias Canetti), sem contar fadigas e sem acumular arrependimentos.

 

Vejo o Evangelho de Deus quando vejo um homem e uma mulher que tomam sobre si a vida dos seus pequeninos; é Evangelho de Deus cada homem e cada mulher que caminham juntos, atrás de um sonho. E é Palavra de Deus aquele que hoje se junta a mim no caminho, é graça de Deus que começa e recomeça sempre do rosto de quem me ama.

 

[Ermes Ronchi | In Avvenire]

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail