É de sede que ouvimos falar nos textos deste III domingo da quaresma. A sede dos pedintes e dos peregrinos. A sede atroz experienciada em contextos tão diversos como aquele que originou a revolta do povo contra Moisés. É sobre a sede que inquieta o homem, a sede de verdade e de bem, de beleza e de eternidade, a sede que nos faz estremecer e dá sentido às nossas vidas, é sobre a premência da água que nos fala o episódio da Samaritana deste domingo.

A sede que nos faz sofrer. Esperamos com as perguntas suspensas. Numa circunstância tão estranha como a que vivemos, o homem interroga-se sobre Deus: onde estás?

Porque permaneces calado? Vais deixar que esta sede nos mate?

Estas perguntas, reformuladas de tantos modos por diferentes protagonistas ao longo da história, ecoam hoje com particular relevância. Vivemos um tempo que até agora talvez não nos parecesse possível: o receio do contágio e a própria doença COVID-19 afeta o coração de todos nós. Somos facilmente contagiados pelo vírus e pelo medo.

Até quando seremos atormentados por este fantasma?

Na verdade, quando nos sentimos mais vulneráveis, se nos mantivermos firmes na fé, não só nos tornamos mais fortes, mas também não desistimos de procurar soluções para os nossos problemas. É necessária uma certa teimosia espiritual. Insistir. Acreditar. Orar para que o extraordinário possa acontecer.

Hoje, enquanto nos abstemos dos gestos que fazem parte das nossas rotinas tais como os cumprimentos, multipliquemos atitudes de proximidade afetiva. Graças aos meios tecnológicos, podemos alimentar e aprofundar as relações e animar-nos uns aos outros, mesmo estando fechados em casa. Não, não nos deixemos contagiar pelo vírus da indiferença. Não nos deixemos contagiar pelo medo que nos paralisa e faz de nós máquinas irracionais. Não deixemos que ninguém morra de sede de compaixão.

Nestes dias mais áridos, disponibilizemo-nos para oferecer a água vida da esperança e a coragem, em especial aos afetados.