O pão da misericórdia
«"Toma, este é o meu corpo."/ A mãe corta o pão da misericórdia,/ é como se cortasse uma parte de si./ Naquele momento tem piedade de todo o mundo.» (Corrado Alvaro, 1895-1956).
A Igreja das origens, como se sabe, celebrava a Eucaristia no espaço doméstico, na mesa de todos os dias, com as roupas do dia a dia, encastoando de muito evidente o divino na história, a presença de Cristo entre as presenças dos homens e das mulheres.
No gesto simples e amoroso de uma mãe que corta o pão para a sua família, Alvaro vê uma espécie de parábola da última ceia. Nela tinha estado Jesus a partir o pão e a distribuí-lo aos seus discípulos como sinal eficaz de amor. Não por acaso, sobre o vinho do cálice disse: «Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós».
É bela a expressão «pão da misericórdia» usada pelo escritor calabrês: ele é, efetivamente, um sinal vivo e falante da doação que uma mãe faz de si à sua família, «é como se cortasse uma parte de si», e o seu gesto torna-se um símbolo para o mundo inteiro.
Neste dia dedicado ao Corpo do Senhor, aproximemo-nos da Eucaristia como de um gesto de amor, destinado a gerar amor uma vez regressados à quotidianidade da vida. «Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo» (1 Coríntios 10, 17).
[Card. Gianfranco Ravasi | In "Avvenire"]