Quaresma em pandemia é tempo para renovar fé, esperança e caridade
O papa recorda hoje aos católicos que «o itinerário da Quaresma, como aliás todo o caminho cristão, já está inteiramente sob a luz da Ressurreição que anima os sentimentos, atitudes e opções de quem deseja seguir a Cristo», e afirma que, no contexto da pandemia, «falar de esperança poderia parecer uma provocação».
Não o será, sugere Francisco, se os católicos se abrirem, como mais desejo de Deus, à sua presença, através do jejum e da oração, e sejam capazes de a traduzir em cuidado concreto a «quem se encontra em condições de sofrimento, abandono ou angústia por causa da pandemia de Covid-19».
«A caridade é dom, que dá sentido à nossa vida e graças ao qual consideramos quem se encontra na privação como membro da nossa própria família, um amigo, um irmão. O pouco, se partilhado com amor, nunca acaba, mas transforma-se em reserva de vida e felicidade», escreve o papa.
A esperança também não é slogan ou palavra vazia se os católicos acreditarem que a Quaresma é um tempo propício para dirigir o seu olhar «para a paciência de Deus, que continua a cuidar da sua Criação», apesar de ser maltratada «com frequência».
«O caminho da pobreza e da privação (o jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa»
Em tempos de aridez, onde e como se podem entrever nascentes de confiança?: «No recolhimento e oração silenciosa, a esperança é-nos dada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e opções da nossa missão; por isso mesmo, é fundamental recolher-se para rezar e encontrar, no segredo, o Pai da ternura».
Na mensagem para a Quaresma deste ano, Francisco lembra que «cada etapa da vida é um tempo para crer, esperar e amar», o que, neste tempo de preparação para a Páscoa, se concretiza através do jejum, oração e esmola, determinantes para a «conversão» pessoal e para a sua «expressão».
«O caminho da pobreza e da privação (o jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa», aponta a mensagem, intitulada “Vamos subir a Jerusalém...» (Mt 20, 18). Quaresma: tempo para renovar fé, esperança e caridade”.
O texto assinala que jejuar significa libertar a existência «de tudo o que a atravanca, inclusive da saturação de informações – verdadeiras ou falsas – e produtos de consumo», para facilitar o acolhimento, no coração, a Cristo que vem, «pobre de tudo», a cada pessoa que o deseja receber.
A Quaresma, caracterizada pela acentuação batismal e penitencial (aos cristãos é especialmente recordado o seu Batismo e a necessidade de conversão), começa na Quarta-feira de Cinzas (este ano, 17 de março) e termina na tarde de Quinta-feira Santa (1 de abril), seguindo-se o Tríduo Pascal
Inerente à oração, que na Quaresma se deseja mais intensa, está o desejo de receber o perdão de Deus, através do sacramento da Reconciliação, situado no centro do processo individual de conversão, e que, mediante «palavras e gestos, possibilita viver uma Páscoa de fraternidade».
«Que este apelo a viver a Quaresma como percurso de conversão, oração e partilha dos nossos bens, nos ajude a repassar, na nossa memória comunitária e pessoal, a fé que vem de Cristo vivo, a esperança animada pelo sopro do Espírito e o amor cuja fonte inexaurível é o coração misericordioso do Pai», deseja Francisco.
A Quaresma, caracterizada pela acentuação batismal e penitencial (aos cristãos é especialmente recordado o seu Batismo e a necessidade de conversão), começa na Quarta-feira de Cinzas (este ano, 17 de fevereiro) e termina na tarde de Quinta-feira Santa (1 de abril), seguindo-se o Tríduo Pascal, que culmina na Páscoa.
As liturgias da Quaresma são marcadas pela ausência do “Aleluia”, austeridade (sem flores nem música instrumental), a cor roxa dos paramentos (associada à penitência e ao luto), exceto no quarto Domingo, em que se pode usar o rosa, e nos dias que o calendário assinala uma solenidade (como acontece a 19 de março, com S. José, cor branca).
As celebrações distinguem-se também pelos «escrutínios» que marcam a fase final do percurso de iniciação cristã dos adultos, conducentes, na Vigília Pascal (entre o Sábado Santo e o Domingo de Páscoa), ao Batismo, Confirmação (Crisma) e Eucaristia.