Não desvirtuar a bondade de Deus

Liturgia 24 setembro 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Ao longo de sua trajetória profética, Jesus insistiu várias vezes em comunicar sua experiência de Deus como “um mistério de bondade insondável” que quebra todos os nossos cálculos. A Sua mensagem é tão revolucionária que, depois de vinte séculos, ainda há cristãos que não se animam a levá-la a sério.

 

Para transmitir a todos a sua experiência desse Deus bom, Jesus compara sua atuação com a conduta surpreendente do dono de um vinhedo. Até cinco vezes o próprio dono sai para contratar trabalhadores para seu vinhedo. Não parece estar muito preocupado com o seu rendimento no trabalho. O que não quer é que nenhum trabalhador fique um dia mais sem trabalho.

 

Por isso mesmo, no final da jornada, não lhes paga de acordo com o trabalho realizado por cada grupo. Não obstante seu trabalho tenha sido muito desigual, a todos lhes dá “um denário”: simplesmente, o que uma família camponesa da Galileia necessitava cada dia para viver.

 

Quando o porta-voz do primeiro grupo protesta porque os últimos foram tratados igual a eles, que trabalharam mais que ninguém, o senhor do vinhedo respondeu-lhes com estas palavras admiráveis: “Vão ter inveja porque eu sou bom? Vai impedir-me com seus cálculos mesquinhos de ser bom com quem necessita de pão para comer?”

 

Que está sugerindo Jesus? Deus não atua com os critérios de justiça e igualdade que nós manejamos? Será verdade que Deus, mais que medir os méritos das pessoas, como faríamos nós, procura sempre responder a partir da Sua bondade insondável à nossa necessidade radical de salvação?

 

Confesso que sinto uma pena imensa quando me encontro com pessoas boas que imaginam Deus dedicado a tomar nota cuidadosamente dos pecados e dos méritos dos humanos, para, um dia, retribuir a cada um de acordo com o merecido. É possível imaginar um ser mais inumano que alguém entregue a este trabalho por toda a eternidade?

 

Acreditar num Deus Amigo incondicional pode ser a experiência mais libertadora que se pode imaginar, a força mais vigorosa para viver e para morrer. Pelo contrário, viver ante um Deus justiceiro e ameaçador pode converter-se na neurose mais perigosa e destruidora da pessoa.

 

Temos de aprender a não confundir Deus com os nossos esquemas limitados e mesquinhos. Não devemos desvirtuar sua bondade insondável misturando os traços autênticos que proveem de Jesus com os traços de um Deus justiceiro colhidos daqui e dali. Diante do Deus Bom revelado em Jesus, o único que cabe é a confiança.

Instituto Humanitas Unisinos – IHU

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail