Crise religiosa

Liturgia 8 outubro 2017  •  Tempo de Leitura: 3

A parábola dos “viticultores homicidas” é um relato em que Jesus vai descobrindo com traços alegóricos a história de Deus com o seu povo eleito. É uma história triste. Deus tinha cuidado desde o início com todo o seu carinho. Era o seu “vinhedo preferido”. Esperava fazer deles um povo exemplar pela sua justiça e a sua fidelidade. Seria uma “grande luz” para todos os povos.

 

No entanto, aquele povo foi rejeitando e matando um após outro os profetas que Deus lhes ia enviando para recolher os frutos de uma vida mais justa. Por último, num gesto incrível de amor, enviou-lhes o seu próprio Filho. Mas os dirigentes daquele povo terminaram com Ele. Que pode fazer Deus com um povo que defrauda de forma tão cega e obstinada suas expectativas?

 

Os dirigentes religiosos que estão a escutar atentamente o relato respondem espontaneamente nos mesmos termos da parábola: o senhor do vinhedo não pode fazer outra coisa do que dar morte àqueles lavradores e colocar o seu vinhedo nas mãos de outros. Jesus apresenta rapidamente uma conclusão que não esperavam: “Por isso Eu vos digo que vos será retirado o reino de Deus e será entregue a um povo que produza frutos”.

 

Comentadores e predicadores interpretaram com frequência a parábola de Jesus como a reafirmação da Igreja cristã como o “novo Israel” depois do povo judeu, que, com a destruição de Jerusalém no ano 70, se dispersou pelo mundo.

 

No entanto, a parábola fala também de nós. Uma leitura honesta do texto obriga-nos a fazermos graves preguntas: estamos a produzir nos nossos tempos “os frutos” que Deus espera do seu povo: justiça para os excluídos, solidariedade, compaixão para com os que sofrem, perdão...?

 

Deus não tem por que abençoar um cristão estéril de quem não recebe os frutos que espera. Não tem por que identificar-se com a nossa mediocridade, as nossas incoerências, desvios e pouca fidelidade. Se não respondemos às Suas expectativas, Deus seguirá abrindo caminhos novos ao seu projeto de salvação com outras pessoas que produzam frutos de justiça.

 

Nós falamos de “crise religiosa”, “descristianização”, “abandono da prática religiosa”... Não estará Deus preparando o caminho que torne possível o nascimento de uma Igreja menos poderosa, mas mais evangélica; menos numerosa, mas mais entregue a fazer um mundo mais humano? Não virão novas gerações mais fiéis a Deus que nós?

Instituto Humanitas Unisinos – IHU

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