Na Escola de Jesus

Liturgia 21 outubro 2017  •  Tempo de Leitura: 3

No início de cada sessão de catequese ajoelhamo-nos para cumprimentar o dono da casa, Jesus. É em ambiente de oração que nos reunimos, no centro da igreja, sob as luzes ténues do altar, para cantarmos em uníssono, depois de termos rezado o Pai-Nosso, o Glória e, por vezes, uma Avé-Maria. As crianças trazem consigo as mochilas, trazem sobretudo as marcas de um dia a findar com as suas histórias e anseiam por partilhar algum episódio do quotidiano, um dente que caiu, uma aventura com um colega, a lição que aprenderam, um problema de saúde, etc. Foi neste ambiente agitado que, na passada quinta-feira, disse ao João, um traquina de sete anos, em voz alta para que todos ouvissem, «tu és meu irmão». Ele arregalou os olhos e abriu a boca em sinal de espanto. Fez-se silêncio. «Não somos nada parecidos», terão pensado alguns. E eu repeti, «sim, tu és meu irmão João». O mesmo ar de surpresa continuava desenhado no rosto da criança. Depois disse à Maria que estava sossegada no seu canto: «E tu és minha irmã Maria». Ela sorriu e encolheu os ombros como que a dizer «não sou nada…». «Sim, tu és minha irmã. E o João é teu irmão». Riram-se à gargalhada. «Na Igreja, com Jesus, somos uma família, sabiam disso?» - interpelei-os.

 

O grupo é ainda muito novo. Começa a dar os primeiros passos na catequese, mas mesmo entre os mais velhos, a experiência da fraternidade, isto é, a perceção clara e entranhada que estamos na mesma barca, que estamos unidos pelas cordas invisíveis da eternidade e, por isso, formamos um só corpo, é muito débil. Contudo, se a catequese familiar e a paroquial bem como as celebrações dominicais não introduzirem uma diferença significativa no nosso “modos vivendi” é porque há uma falha no processo de transmissão e inculturação da divina mensagem. Dito de outro modo, se a proposta do ressuscitado, partilhada e aprofundada nestes contextos, não se apresenta como uma contraproposta atrativa aos valores dominantes do individualismo e da cultura do ter, então é porque não ouvimos bem o que tem sido proclamado ou, se ouvimos não entendemos, ou ainda, se entendemos, não a valorizamos pondo-a em prática. Chegados aqui, a pergunta que se impõe é: «para que serve a igreja se ela não acrescenta nada de novo nem de belo ao mundo?». Este pensamento introduz-se como uma vaga mais ou menos inconsciente e, por isso, predomina um ateísmo prático, acreditamos mas vivemos como ateus, segundo a lógica exclusiva «de César».

 

É pelo acolhimento da Palavra de Deus que chegamos à forma da nova comunidade. A «fórmula» capaz de reformular continuamente e conferir uma identidade peculiar à assembleia dos batizados é apenas uma: Jesus. É por isso necessário e urgente entrarmos nesta escola de formação, deixando-nos formatar por um Jesus que nos torna a todos irmãos. Não adiemos mais.

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