Tempo de Esperança
As estradas de terra batida, em Lombe, Angola, eram atravessadas por uma multidão em contínua agitação. Eram sobretudo mulheres e crianças. As mulheres caminhavam solenemente, como estátuas nobres, apesar de transportarem à cabeça um balde de água, um feixe de lenha ou outro material necessário à sobrevivência diária. Eram mulheres fortes e habituadas ao trabalho.
Para o visitante que observa semelhante espetáculo é fácil sentir-se invadido por um sentimento de compaixão que, no entanto, é rapidamente superado quando se apercebe da intensidade da alegria destas pessoas. São pobres em recursos, pobres no conhecimento tecnológico, pobres de estruturas sociais como hospitais e escolas, mas ricas de esperança. «Amanhã vai ser melhor», parecem dizer continuamente. E transmitem-nos um sentimento de bem-estar e de paz invejável. Vivem no essencial e são testemunhas da esperança.
Habituados a ter quase tudo, facilmente atravessamos as estradas deste mundo, não como sinais de alegre esperança, mas como sujeitos curvados pelas muitas preocupações que, sem darmos conta, fomos acumulando como quem amealha um tesouro. E dificilmente nos dispomos a parar para fazer a pergunta decisiva: ainda sou um sujeito de esperança? Por quem espero?
O novo ciclo do calendário litúrgico é um desafio a cimentar a nossa esperança para que não nos tornemos em máquinas ruidosas ou carruagens vazias de uma locomotiva que desconhece a origem e o destino. Por vezes estamos tão contagiados pelo espírito deste mundo que colocamos a nossa esperança num estímulo passageiro como crianças à espera de um presente em tempo de Natal.
Precisamos de motivos para esperar com confiança. E nós cristãos devemos ter consciência que Ele é razão suficiente. O testemunho dos primeiros discípulos é um exemplo de uma esperança forte. Perseguidos e publicamente vilipendiados, torturados e, em muitos casos, barbaramente martirizados, eram capazes de serenar o coração com a súplica Maranathá! Acreditavam sem hesitação que o Senhor da Vida estava próximo e esta fé, capaz de estremecer a terra, dava consistência à esperança. Esperavam em paz. Por quem esperamos?
Por quem esperamos?