Beijar o céu

Liturgia 12 dezembro 2017  •  Tempo de Leitura: 2

«Como as árvores que pedem/ a luz no seu alto/ e a negam às raízes,/ porque é que também eu vivo/ a procurar Deus com as palavras,/ rejeitando-o da alma?»

 

Nascido em 1927 na ilha de Sado, o japonês Kikuo Takano, de quem extraímos estes versos, foi professor de matemática e cultor de música, tendo encontrado na poesia o caminho para exprimir a sua fé zen e taoista, sem ignorar a espiritualidade ocidental.

 

Confessava: «Dentro de nós temos sem dúvida um espaço de ausência onde esperamos Deus, e este vazio só pode ser preenchido por ele». O excerto que escolhemos atesta precisamente esta necessidade íntima da transcendência que, todavia, é muitas vezes frustrada e tornada vã pelo frenético movimento exterior da vida contemporânea.

 

Não raramente, com efeito, temos o nome de Deus nos lábios não só porque o rezamos talvez a cada dia, mas também porque no momento da necessidade, da provação, do sofrimento agarramo-nos a Ele para ter uma ajuda ou um conforto. No entanto, na realidade, nas escolhas da nossa vida rejeitamo-lo da alma.

 

Somos como as árvores que desejam a luz apenas ao de cima, enquanto as raízes permanecem na obscuridade da terra. Não conseguimos ultrapassar o limiar de uma religiosidade de superfície para penetrar nas profundidades autênticas da fé, que estão situadas na alma, na consciência, na vontade, nas decisões morais.

 

São talvez só as crianças – escreve ainda Takano – que nos mostram o céu de Deus: «Uma menina pintou um desenho em que um tanque “é esmagado por um homem” – porque ela compreendeu a estranheza do mundo. Seguramente vinha do céu. Ou o céu vinha dela? Abraçando-a terno, beijei o céu».

 

[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In "Avvenire"]

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