Enganar o tempo

Liturgia 14 dezembro 2017  •  Tempo de Leitura: 2

«O homem moderno pensa que perde tempo quando não faz as coisas à pressa. Todavia não sabe depois o que fazer do tempo que poupou, a não ser matando-o.»

 

«Matar o tempo» é uma expressão forte que entrou, inclusive, noutras línguas, e que reflete muitas vezes o paradoxo assinalado pelo psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980) na sua obra mais feliz, “A arte de amar”, de que extraímos a citação.

 

Por um lado, o grande mandamento é o de não perder tempo, de agir com celeridade, de não dar trégua a si próprio enquanto não foram alcançadas as metas predefinidas, ignorando tudo o resto, “drogando” os próprios ritmos do corpo. «Tempo é dinheiro!», repetem-nos desde que somos crianças.

 

Por outro lado, porém, quando se consegue finalmente ter tempo livre e disponível, não se sabe o que fazer dele, é como um brinquedo inútil, e então entra em cena a frase citada: resignamo-nos a “matar o tempo”, a esperar voltar à agitação.

 

A razão última desta contradição está precisamente na incapacidade de viver o tempo, sem ser ou exterior a ele ou seu escravo. Equilibrar os ritmos, reencontrar “tempos e momentos” para cada ação, como dizia o Qohélet bíblico.

 

Ser capaz de agir e refletir, de trabalhar e de cultivar interesses mais livres e criativos, viver os dias de semana e desfrutar dos dias festivos, imergir nas coisas e reencontrar-se a si mesmo na oração e no silêncio: é esta a difícil arte de viver o tempo.

 

Gostei sempre de uma frase do famoso romance “Gargântua e Pantagruel”, de Rabelais, que, reescrevendo o dito de Jesus sobre o sábado, afirmava: «As horas são feitas para o homem, e não o homem para as horas». 

 

[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In "Avvenire"]

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