Ricos e pobres
«Os ricos recusam muitas vezes ajudar-nos, que somos pobres, enquanto que os pobres dão tudo o que têm para ajudar quem não tem nada. Devia ser de outra forma, mas os ricos não têm tempo para se perderem connosco, pobres.»
A falar assim, com amarga verdade, é Jeeter Lester, o protagonista do romance mais conhecido que o escritor norte- americano Erskine Caldwell publicou em 1932, intitulado “A estrada do tabaco”, ambientando-o nas zonas rurais dos estados do Sul (o autor nasceu na Geórgia), romance que se tornou também num belo filme de John Ford (1941).
Sabemos todos, desde logo pelos padres e as suas obras paroquiais ou caritativas, que, se não fosse a gente simples com as suas ofertas, arrancadas talvez a uma modesta pensão, não se poderiam apoiar tantos marginalizados e não se construiriam muitas igrejas ou estruturas beneficentes.
O rico dá, provavelmente, uma quantia relevante, mas fá-lo raramente, exigindo lápides e reconhecimento, títulos de benemérito e admiração. Todavia, o apoio verdadeiro e constante vem apenas de quem «dá tudo o que tem para ajudar quem não tem nada», sem fazer soar as trombetas, antes no mais modesto silêncio e anonimato.
Caldwell, no seu trecho, parece quase evocar as palavras do Evangelho: «Jesus viu alguns ricos que lançavam as suas ofertas no tesouro. Viu também uma viúva pobre que lhe lançava duas moedas, e disse: “Em verdade vos digo: esta viúva pobre pôs mais do que todos. Todos eles, com efeito, depositaram como oferta algo que lhes era supérfluo, esta, ao contrário, na sua miséria, deu tudo quanto tinha para viver» (Lucas 21, 1-4).
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]