Livro da Semana: «Em A nossa mãe Terra»

Livros 20 maio 2020  •  Tempo de Leitura: 7

Em A nossa mãe Terra é abordado o atualíssimo tema do desafio ecológico, de que se ocupa também a Encíclica Laudato si’, a que o papa Francisco alude de forma recorrente. Aqui se reúnem frases, textos, discursos e homilias do Papa sobre a guarda da criação e a promoção de uma vida digna para todos.

 

O prefácio do presente livro é do patriarca ecuménico Bartolomeu, que sublinha a perfeita sintonia entre ortodoxos e católicos – à luz da fé em Cristo –, na proteção do dom da criação e da vida humana – sobretudo nas suas manifestações de maior fragilidade e mais expostas.

 

Um texto inédito do papa Francisco, que aborda de maneira sintética e orgânica a grande visão cristã da criação, do seu destino e da nossa missão universal enquanto crentes, encerra o conteúdo da obra.

 

Prefácio do Patriarca Ecuménico Bartolomeu

 

Quando decidimos, num gesto de espontânea solidariedade ecuménica, participar na Missa de inauguração do papa Francisco, em março de 2013, nunca poderíamos imaginar as infinitas dimensões de ministério fiel aos princípios e aos preceitos evangélicos que emergiriam da nossa fraternidade e amizade. 

 

Estávamos, decerto, profundamente convencidos do significado e da sacralidade dos nossos esforços de diálogo no amor e na verdade em prol do restabeleci- mento da unidade e da comunhão, enquanto discípulos do Senhor, que rezou para que possamos ser um só (cf. Jo 17,21), tendo-nos envolvido nisso com paixão. Todavia, nunca poderíamos imaginar as repercussões globais de um autêntico serviço aos direitos humanos e à justiça que emergiriam do nosso amor e solicitude pela criação de Deus. 

 

Apenas um ano mais tarde, em maio de 2014, demos início, com o papa Francisco, a uma peregrinação conjunta a Jerusalém para comemorar e celebrar o quinquagésimo aniversário da chegada dos nossos veneráveis predecessores, o patriarca ecuménico Atenágoras e o papa Paulo VI, para aí se encontrarem, em 1964. Embora o contexto de tal acontecimento fosse ecuménico, a atenção estava virada para as perseguições religiosas e para os sofrimentos no Médio Oriente. Encontros de oração e de paz do mesmo teor sucederam-se no Vaticano (2014), em Istambul (2014), em Assis (2016), no Cairo (2017) e em Bari (2018). Além disso, na Terra Santa, declarámos conjunta- mente: 

 

Embora estando ainda a caminho da plena comunhão, temos desde agora o dever de oferecer um testemunho comum do amor de Deus por todos, colaborando no ser- viço à humanidade, de modo especial no que diz respeito [...] à promoção da paz e do bem comum e à resposta às misérias que continuam a afligir o nosso mundo. [...] Estamos profundamente convencidos de que o futuro da família humana também depende de como soubermos guardar, de modo sábio e amoroso, com justiça e equidade, o dom da criação que nos foi confiado por Deus. [...] Queremos expressar a nossa profunda preocupação comum pela situação dos cristãos no Médio Oriente e pelo seu direito a continuar a ser cidadãos de pleno direito das suas pátrias. [...] Estamos profundamente convencidos de que não são as armas, mas o diálogo, o perdão e a reconciliação, os únicos instrumentos possíveis para alcançar a paz. 

 

[...] 

 

A fonte do nosso otimismo consiste, todavia, no facto de que não estamos sós na nossa resposta e na nossa responsabilidade em prol da defesa da dignidade humana e da proteção da criação de Deus. Não temos apenas a certeza da graça do Senhor, mas também a solidariedade dos nossos irmãos e das nossas irmãs. Foi isso que aprendemos com a nossa relação com o amado papa Francisco, com o qual partilhamos o empenho pela esperança de todos os povos e a alegria na esperança da cura do nosso planeta. 

 

Como servos do Deus do amor, consideramos que uma das nossas obrigações fundamentais e um dos nossos deveres morais é responder ao sofrimento global e deixar em herança às gerações futuras um mundo sustentável, tal como foi criado e desejado pelo nosso Criador, cheio de amor. 

† BARTOLOMEU I

Arcebispo de Constantinopla – Nova Roma e Patriarca Ecuménico

 

UMA GRANDE ESPERANÇA Um mundo criado como dom 

 

A Sagrada Escritura ensina-nos que Deus criou o mundo. Em seguida, a liturgia da Igreja revela-nos que Ele o fez «para derramar o seu amor» (Missal romano. Prefácio da IV Oração Eucarística) sobre tudo aquilo que do nada foi chamado à vida. Tudo o que existe traz, portanto, consigo, uma marca, um traço, uma memória – quase me atreveria a dizer genética – que remete para o Pai. Isso significa que, em tudo o que existe, o Pai se dá, e que, portanto, pode- mos encontrá-lo, podemos ter alguma experiência do seu amor, apreender uma centelha da sua paternidade. Não existe nada de tão pequeno ou tão pobre que não traga consigo esta origem ou que a possa perder completamente. [...] 

 

Uma grande esperança 

 

Dom, arrependimento, oferenda, fraternidade. Eis quatro palavras que traduzem uma visão da realidade, da criação, mas que também indicam um caminho de cura da necessidade de possuir, de poder e do abuso, versus partilha, colaboração e respeito. Versus uma fraternidade universal, como aquela que nos foi mostrada por São Francisco de Assis, padroeiro de quem trabalha pela ecologia, pela verdadeira ecologia humana, porque tem o sabor do modo pelo qual Deus salva o mundo. Eis a minha grande esperança para o nosso tempo. 

 

 

Bento Oliveira

Coordenador iMissio.

Pai. Licenciado em Ciências Religiosas. Professor de EMRC. Gosta de pensar e evangelizar nas redes! O trabalho em equipa é o presente da pastoral.

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