Livro da Semana: «Que verdade nos habita?»
Que Verdade Nos Habita? oferece uma leitura surpreendente do Evangelho, uma viagem por perspetivas inéditas de reflexão que ampliam a espiritualidade cristã.
A Irmã Maria José Oliveira fez a sua Profissão Religiosa na Congregação das SFRJS, em 1990, em Macedo de Cavaleiros. Depois dos estudos superiores, exerceu dois anos a docência. O seu trabalho pastoral tem incidido na vertente eucarística e litúrgica. Fez os cursos de Órgão e Direcção do Serviço Nacional de Música Litúrgica. Reside em Bragança e é membro do Secretariado Diocesano de Liturgia e Espiritualidade tendo, de 2011 a 2013, servido a Diocese de Bragança-Miranda como secretária de D. José Cordeiro. Tem colaborado em publicações sobre a reflexão do Evangelho ao Domingo. A nível da sua Congregação, desde 1995 exerce o cargo de secretária geral e desde 2010 faz parte do Governo Geral.
«Há livros que são para “ir lendo”, para ir meditando, tal como a vida, tal como o sermos nós, chamados a acreditar na missão profética que nos toca viver, lendo e meditando a vida, meditando e lendo a História e as histórias que passam, que nos passam e que passam por nós, e que às vezes nos viram a vida ao contrário...» (Do «Prefácio» de Frei Fernando Ventura, OFMcap.)
Prefácio
Amigo leitor, muito obrigado por ter decidido atrever-se a abrir este livro.
Permita-me, entretanto, que lhe peça que não o leia. Isso mesmo, por favor não leia este livro. Há livros assim, há livros que não são para ler... e este é um deles!
Há livros que não se podem ler com a pressa de chegar ao fim, de descobrir «o mistério» que se esconde nas palavras e que se vai revelando na sofreguidão da leitura, no fim da qual, pouco ou nada fica. Depois daquela «história», virá outra, virão tantas outras no corrupio da leitura apressada da vida, no frenesi da existência que nos habita, feito vontade «de chegar ao fim»> e que tantas vezes nos impede de «ver» o mistério.
Há livros assim, há livros que não são para ler... e este é um deles!
Muitas vezes, «a vontade de chegar ao fim», faz-nos correr ao ritmo da corrida das palavras, às quais, porque não damos tempo de se trans formarem em ideias, se convertem imediata mente em opiniões... opiniões enquistadas que vão compondo o nosso mundo mental, que vão descompondo o nosso mundo relacional, que vão desalinhando e desarrumando o equilíbrio «shalémico» com que a Humanidade se vê confrontada, «desde as origens», em sucessivas ondas de renovação do pecado «originante» que nos habita.
Há livros assim, há livros que não são ler... e este é um deles!
Há livros que são para «ir lendo», para ir meditando, tal como a vida, tal como o sermos nós, chamados a acreditar na missão profética que nos toca viver, lendo e meditando a vida, meditando e lendo a História e as histórias que passam, que nos passam e que passam por nós, e que às vezes nos viram a vida ao contrário...
Por isso, convido-o a ler este livro ao contrário.
Isso mesmo, ao contrário.
Convido-o a começar pelo fim, justamente pelo desafio da coragem de olhar sem medo «o padrão da verdade» para iniciar o seu processo do seu como «construir caminhos», como gerir e caminhar entre os «lobos», como Francisco de Assis, «ensaiando» os sentidos no ritmo de sono e vigília de onde há que despertar, para que a ninguém seja negado «um lugar na hospedaria» e, com «Pedro» encontrar a luz do «farol» que permita medir o mar das Galileias dos gentios tantas vezes condenadas à ignomínia do juízo dos olhos dos centuriões» que vão elegendo Barrabás e condenando os inocentes.
Convido-o a continuar com a autora ao longo do caminho da viagem. «Se quisermos ir», deixa remos os homúnculos que babam barbaridades nas margens dos caminhos; «se quisermos ir», podemos até descobrir Aquele que tem palavras de vida eterna e descobrir com Nicanor a beleza do gesto e dos gestos de profecia, olhando o mundo e a História com os olhos de ver, capaz de curar tudo o que na vida é não-vida ressequida, capaz de ver, para além da evidência, a generosidade do gesto da viúva pobre, de entrar no «cortejo de Naim», na concretização do sonho de ser mos, um dia, «todos irmãos», levando também nós «a bilha da Samaritana», com cuja água podemos matar as sedes e curar as feridas como «a ferida escondida de Pedro», na missão que não nos permite ficar na praça à espera que nos contratem pelo «soldo de um denário», porque a recompensa do missionário é a vida eterna, onde se fará sem cessar «a festa da vida da filha de Jairo», e todas as festas de todas as vidas ressuscitadas, à volta da mesa do «banquete para aceitar» também com a humildade do reconheci mento dos «motivos do filho pródigo», porque para todos virá a chuva do maná do deserto», que há de matar as nossas fomes.
Confuso? Espero que sim.
Agora pode, agora pode começar a «não ler» o livro. E sim, por favor comece ao contrário, comece pelo fim, porque neste livro, como na vida, cada ponto de chegada é sempre um novo ponto de partida.
Boa viagem, na busca da pergunta inicial e essencial: «Que verdade nos habita?»
Para a Irmã Maria José Oliveira vai o meu obrigado pela confiança que depositou em mim ao convidar-me para prefaciar este livro. Com o meu agradecimento vai também o meu pedido de desculpa, com a humildade de quem reconhece o risco de sempre poder atraiçoar a mensagem da obra, ou de «descobrir» nela ideias que lá não estão.
Contudo, se isso aconteceu, também com humildade agradeço o ter permitido que das suas ideias surgissem outras. As ideias são isso mesmo. São as cores que permitem pintar novos quadros com a policromia que o mundo precisa, para vencer o monocromatismo das opiniões conquistadas.
Muito obrigado.
FREI FERNANDO VENTURA, OFMCAP