Dentro do túnel
«Muitas vezes caminhamos nas trevas, mas fazemo-lo com a memória da luz recebida, daquela luz que sabemos fluir instantaneamente. Para mim é assim. Muitas vezes caminhamos na escuridão, mas sei que a luz há de voltar. Quando era criança gostava de passar dentro dos túneis, de comboio. Mais cedo ou mais tarde sai-se dele.»
Estas palavras são de uma escritora belga contemporânea, Colette Nys-Mazure, extraídas do livro “As sombras e os dias”. A imagem é simples e universal, aliás, é a primordial do contraste luz-trevas, antítese que abre a própria narração bíblica da criação.
Todas as crianças experimentam o pesadelo da escuridão e esta experiência deixa uma ferida que nunca sara. A obscuridade tomará depois nomes mais específicos e existenciais, como dor, morte, mal, culpa, infelicidade.
Mas de igual modo viva e incisiva é a experiência da luz, do seu poder, do seu irromper glorioso, e assim florescerá na alma a espera, a alegria, a vida, o bem, o amor e a esperança, realidade positiva sempre aureolada de luz.
Nys-Mazure repete uma mensagem com frequência proclamada não só pelas religiões mas também por muitas culturas: a última palavra é a da luz. Quando se está dentro de im túnel, a esperança é sempre a de entrever a luminosa saída final.
Também quem desespera tem num secreto canto do coração a esperança de ser desmentido e encontrar uma centelha de felicidade.
No prólogo do Evangelho segundo João há uma frase habitualmente dita assim: «As trevas não acolheram a luz» (1, 5). Ela, porém, pode ser traduzida também deste modo: «As trevas não sufocaram a luz».
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]