Olhos abertos ou fechados?
«Toda a iconografia cristã representa os santos com os olhos abertos para o mundo, enquanto que a iconografia budista representa cada ser com os olhos fechados» (Gilbert K. Chesterton, 1874-1936). Esta nota é interessante porque coloca em confronto duas atitudes diferentes, para não dizer opostas, no confronto com a realidade.
De um lado há a visão cristã “incarnada” na história, pronta a lançar uma semente de eternidade no mundo, a lutar contra o mal e a injustiça, a criar uma nova ordem de relações sociais e interpessoais.
Do outro lado há uma espiritualidade mais “introvertida”, inclinada a encerrar-se no mistério que cada criatura tem dentro de si, considerando-o como o microcosmo no qual se descobre Deus.
É fácil observar que ambas as perspetivas podem degenerar na prática. Não é raro, com efeito, ver a redução do cristianismo a puro compromisso caritativo, espoliando-o da sua dimensão mística e transcendente.
Como é frequente também no Ocidente a tentação de retirar-se em si mesmo, ignorando o mundo com as suas misérias, descolando da realidade quotidiana em direção a céus míticos e místicos.
É por isso necessário reencontrar a força do testemunho que arrasta, ter olhos bem abertos para lutar contra o mal, e ao mesmo tempo é indispensável reentrar em si mesmo na oração, para se alimentar na fonte da intimidade divina.
É só através deste equilíbrio entre o olhar exterior, vigilante e capaz de julgar, e o olhar contemplativo da alma que se tem a verdadeira espiritualidade.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]