A solidão necessária
«Uma só coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir para dentro de si e não encontrar ninguém durante horas: a isto é preciso chegar.
Estar só como está só a criança. Se nos aproximamos de uma criança absorta num jogo ou na exploração de um objeto, tem-se repentinamente da sua parte uma reação brusca: ele gosta de estar só consigo próprio, com as suas fantasias, os seus arabescos gestuais e mentais.
Depois, quando cresce, perde esta capacidade de estar consigo próprio e começa, sim, a vida em companhia, mas também a lógica do bando e do rumor de fundo, uma espécie de distração permanente do silêncio. Desta maneira perde-se a possibilidade de se encontrar a si próprio, de escutar-se, de penetrar no secreto da consciência.»
É isto que o grande poeta austríaco Rainer Maria Rilke (1875-1926) evoca numa das suas “Cartas a um jovem poeta”. Estar só contém em si o germe da reflexão, da maturação, da fineza espiritual, da própria contemplação de fé.
Infelizmente é um exercício que desapareceu do horizonte educativo e das práticas quotidianas, inclusive dos adultos. É assim que sobe o grau da superficialidade, da irritabilidade, da banalidade e da indiferença.
O silêncio para «ir para dentro de si» é uma espécie de dieta da alma que nos purifica das misérias, nos eleva das coisas, nos liberta do tagarelar, nos despoja das realidades inúteis.
Mas atenção: ainda que sejam parecidos exteriormente, a verdadeira solidão não é isolamento, porque este é uma prisão da alma e um terreno onde pode florescer a erva daninha da infelicidade ou acontecer a morte do amor.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire ]