O céu do sótão

Razões para Acreditar 28 fevereiro 2018  •  Tempo de Leitura: 2

«Experimenta também tu, uma vez que te sentires só ou infeliz ou triste, olhar para fora do sótão quando o tempo está tão bonito. Não as casas ou os tetos, mas o céu. Enquanto puderes olhar para o céu sem medos, estarás certo de seres puro por dentro e voltarás a ser feliz.»

 

São palavras do “Diário” de Anne Frank, a jovem judia refugiada em Amesterdão com a família, onde no entanto a alcançará o monstro nazi, eliminando-a em 1945, aos 16 anos.

 

O trecho é compreensível tendo em conta os dois anos de segregação vividos por Anne num quarto emparedado, antes de ser descoberta e deportada para o campo de concentração de Bergen-Belsen.

 

Daquele sótão onde se consumiam os seus dias, a jovem vê uma fenda de céu e essa contemplação deixou de ser para ela uma experiência visiva, mas uma visão da alma. O céu consegue iluminar a interioridade e a fazer-lhe emergir a pureza e a bondade ocultas.

 

Também a pessoa superficial ou má, se se empenha por um instante a afastar-se do seu rebanho ou de um horizonte ameaçador e a procurar o céu, sinal da transcendência e do divino, descobre que tem ainda em si uma semente de luz, um rebento de bondade.

 

É nesse olhar para o infinito que podem desabrochar as conversões e pode reflorir, inclusive no desespero, a serenidade. Precisamente por isso é necessário de vez em quando levantar a cabeça para o alto, estar em silêncio, descobrir o gosto da meditação, fazer aflorar uma oração.

 

É só por este caminho que a graça divina surge e se irradia em nós, e a paz penetra no coração, fazendo-nos saborear a verdadeira alegria, «esplêndida centelha divina», como lhe chama o poeta alemão Friedrich Schiller no seu célebre “Hino à glória”.

 

 

[P- (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]

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