O peso das comodidades

Razões para Acreditar 21 março 2018  •  Tempo de Leitura: 2

«A maior parte dos luxos e muitas das chamadas comodidades não só não são indispensáveis, como são, pelo contrário, verdadeiros obstáculos ao progresso da humanidade.»

 

Conta-se que Sócrates ia para o meio das mercadorias e produtos oferecidos pelo mercado de Atenas para exclamar, satisfeito: «De quantas coisas não tenho absolutamente necessidade».

 

A sociedade moderna levou-nos, com o seu consumismo, a um nível altíssimo de necessidades não necessárias. Muitas “comodidades” são absolutamente exorbitantes, apenas úteis para enriquecer quem as produz e se destaca na habilidade de convencer-nos que sem elas não podemos viver decorosamente.

 

É este também o pensamento expresso pelo escritor americano Henry David Thoreau (1817-1862), na sua obra “Walden ou a vida nos bosques” [editado em Portugal pela Antígona], espécie de diário da sua vida durante dois anos sozinho numa cabana junto ao lago de Walden, no Massachusetts.

 

É verdade que pode também haver uma retórica da vida na natureza, primitiva e solitária, e talvez o próprio Thoreau seja algo indulgente em relação a ela.

 

Todavia, a lógica frenética dos consumos, a publicidade comercial marteladora, a preguiça e o prazer sem esforço encheram-nos de produtos que impelem para fora de nós mesmos a nossa, o compromisso, a sobriedade, a generosidade.

 

O estilo clássico da Quaresma era o da separação, da renúncia, da abstinência, do jejum. Agora, no máximo, conhece-se a dieta mas ignora-se o domínio de si, o essencial, a purificação do espírito da posse e da acumulação.

 

Um autêntico progresso moral ocorre quando nos libertamos das escórias, dos adornos, das comodidades inúteis. O apego às coisas torna-nos não só pesados fisicamente, mas pesados na mente e no coração, extinguindo a leveza e a liberdade da alma.

 

[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]

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