A dor como mestra
«O homem é um aprendiz, a dor o seu mestre:/ ninguém se conhece a si próprio até que sofra.» Dia de dor, a Sexta-feira Santa parece reassumir em si todo o sofrimento do mundo.
O Cristo crucificado é o emblema de um tormento universal que faz olhar para Ele crentes e ateus, como dizia o escritor italiano Alfredo Oriani (1852-1909): «Crentes ou incrédulos, ninguém sabe subtrair-se ao encanto dessa figura, nenhuma dor renunciou sinceramente ao fascínio da sua promessa».
Voltemo-nos, também nós, para essa realidade que tememos e da qual procuramos evadir-nos. Na verdade, a dor não é só maldição, e é isso que nos recorda o poeta romântico francês Alfred de Musset (1810-1857) na sua poesia "A noite d'outubro", composta precisamente quanto estava doente e provado pelos excessos de uma vida atormentada.
A dor é uma espécie de mestre que nos purifica da banalidade, da estupidez, da superficialidade, reenviando-nos para a interioridade, para as realidades que verdadeiramente contam, para a consciência, para o sentido da vida.
Esopo, o célebre contador de fábulas grego, cunhou um jogo de palavras, "pathèmata-mathèmata", «os sofrimentos são ensinamentos». Reencontremos, então, a capacidade de atravessar o território tenebroso da provação não com o desespero no coração, mas com a expetativa de uma aurora.
Também Cristo, apesar de gritar a sua extrema desolação («meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»), no fim aplaca-se na confiança: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito». Será ainda o mesmo Musset a escrever: «Nada nos torna tão grandes como uma grande dor».
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]