A alma de todos os dias
«Há algo pior do que ter uma alma má e até mesmo fazer-se uma alma má: é ter uma alma bela e feita. Há algo pior do que ter uma alma perversa: é ter uma alma de todos os dias.» Assim escreveu o poeta católico francês Charles Péguy (1873-1914).
É espontânea, no entanto, uma pergunta: o que será essa detestável «alma de todos os dias»? O poeta define-a como «uma alma bela e feita», isto é, pré-embalada, como uma peça de roupa que se compra nas grandes lojas.
É verdade que a alma má, perversa, tenebrosa é uma realidade dramática. No entanto, há outra tragédia que não impressiona, embora seja tão séria, que é a da alma incolor, vazia, opaca, banal, ordinária.
Infelizmente este é o tipo de alma mais difundido. Se alguém a possui, não se preocupa em demasia porque pode responder à eterna pergunta da pessoa que tem tal modelo
da alma: «Que fiz eu de mal?».
Na realidade, o mal está precisamente nesse vazio, nessa ausência de autenticidade, nesse quotidiano cinzento e destituído. São palavras paradoxais, mas Pasolini tinha razão quando escrevia em "Humilhado e ofendido": «Pecar não significa fazer o mal: não fazer o bem, isto significa pecar».
É preciso, por isso, redescobrir uma alma genuína, alegre e festiva, que conheça a emoção da bondade, a alegria da vida, a plenitude do amor.
No mundo em que estamos imersos, tudo milita contra essa alma; às vezes até na igreja arrastamo-nos com uma alma descolorida para a levar para casa ainda mais desbotada. É preciso que o Evangelho nos sacuda para redescobrir a verdadeira alma.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]