Um novo dia
Ao acordar pela manhã, sorrio. Tenho diante de mim um dia novo em folha. Nós vemo-lo como uma página de agenda, marcada por um número e um mês. Tratamo-lo com ligeireza, como uma folha de papel. Se pudéssemos revolver o mundo e ver este dia elaborar-se desde o fundo dos séculos, compreenderíamos o valor inestimável de um só nosso dia.
De 2015 consumaram-se já 244 dias e restam-nos ainda 121. Assim leio na minha agenda sob a data de 1 de setembro. Deste veloz curso do tempo não nos preocupamos, e por isso foi cunhada a expressão «enganar o tempo», não tanto para procurar arrancar-lhe qualquer coisa mais, mas sobretudo para o queimar mais depressa.
Precisamente num livrinho intitulado “Enganar o tempo” encontro a belíssima reflexão de Madeleine Delbrêl (1904-1964), uma extraordinária mística francesa que viveu nos bairros operários pobres da periferia parisiense.
O seu é um convite a descobrir não só o valor do tempo, mas também o de ser guardador de um mistério: nele, com efeito, aninha-se uma centelha de eternidade. E isto não apenas porque Cristo, ao incarnar, depositou uma semente divina na nossa condição de criaturas, mas também porque é aqui e agora que nós construímos o destino futuro de luzes ou de sombras, de glória ou de silêncio.
O salmista convida-nos, cada dia, a rezar assim: «Senhor, ensinai-nos a contar os nossos dias, e teremos a sabedoria do coração» (90, 12). Cada novo dia foi para nós pensado por Deus desde a eternidade, e nele se encerra um pequeno mistério de salvação.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In "Avvenire"]