O nada e o tudo
«As crianças encontram o tudo no nada; os homens o nada no tudo.» O "Zibaldone" de Giacomo Leopardi (1798-1837) revela a genialidade absoluta deste poeta italiano. Basta apenas permanecer por um instante numa frase fulgurante como a que citamos hoje.
Ao pequeno é suficiente um cabo de vassoura para criar um cavalo, um pouco de areia para conceber um castelo, uma folha branca para evocar o céu e a terra.
Tornado adulto (ou feito adulto já desde pequeno com os inapropriados jogos eletrónicos a ele impingidos pelos pais), nunca ficará satisfeito com nada, mesmo que possua palácios, viaje pelo mundo ou tenha tudo o que deseja.
Esta é uma variante daquela lei que Jesus formulou assim: «Que vantagem terá o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a própria alma?» (Mateus 16, 26).
Sem alma, o tudo torna-se nada, o possuir é vazio, a existência é vã, o mundo é uma realidade insignificante. É também por isso que Jesus nos repete: «Se não vos tornardes como as crianças, não entrareis no reino dos céus» (Mateus 18, 3).
É preciso, portanto, reencontrar o gosto do deslumbramento, a capacidade de descobrir num grão de areia um microcosmo, na flor a beleza, na vida um sentido, nas coisas um estigma do infinito, nas horas uma semente de eternidade.
É esta a função da poesia, da arte, da música. Mas esta é sobretudo a missão da fé que em cada instante te faz intuir a presença de Deus que te interpela e te chama a uma tarefa gloriosa.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]