As tochas e o beijo
«A lua invernal estava capturada no emaranhado dos ramos. Dormiam as árvores contra o céu noturno. «Mas não como quero Eu, mas como queres Tu, ó Pai. O peso permanece só meu. Os amigos não ouviram o meu apelo. Tudo era silêncio. Depois as tochas e o beijo. Depois a aurora pardacenta no palácio do sumo-sacerdote. Que ajuda do seu amor? A minha única pergunta é, em vez disso, se os amo.»
Morreu em 1961 num acidente aéreo no Congo, enquanto, na sua qualidade de secretário-geral da ONU, procurava instaurar a paz naquela região lacerada: Dag Hammarskjöld.
Além de político sueco, era também um crente de forte têmpera mística, como se evidenciou quando foi publicado o seu Diário. Do seu texto datado de 26 de novembro de 1960 quisemos chegar à festa da Exaltação da Cruz, que se evoca a 14 de setembro.
A cena noturna é a do Getsémani, com um Cristo só e atormentado no corpo e no espírito, pronto a ser traído por um amigo e a ser rejeitado pelo seu povo. Na sua solidão Ele não encontra amor mas quer dar amor.
É a atuação desse apelo, que Ele tinha lançado durante a sua existência terrena, a orar pelos inimigos, a perdoá-los mesmo quando te crucificam, a abandonar a alma nas mãos desse Pai mesmo que pareça silencioso e ausente.
Diante da cruz de Cristo desvelamos uma parábola do ser cristão, um itinerário de vida árduo e pouco seguido. Todavia Hammarskjöld testemunha que é possível caminhar por esse caminho de subida, sem no entanto afastar-se do quotidiano, na fidelidade ao seu compromisso no mundo e na história.
Nesse mesmo Diário, ele tinha anotado de modo lapidar este propósito: «Ao passado: obrigado! Ao futuro: sim!».
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]