Fé e dúvida

Razões para Acreditar 4 outubro 2018  •  Tempo de Leitura: 2

«A fé e o amor têm de conquistar-se a cada dia através de uma luta com a dúvida. A vitória sobre a dúvida é a única e verdadeira afirmação do crer.»

 

Este testemunho de um realizador que me é particularmente querido, Ermanno Olmi (1931-2018), recorda um dado que passa muitas vezes negligenciado e até fonte de equívocos ou de ansiedade.

 

Fé e amor não são apenas fontes de paz e de felicidade. Ao contrário. Basta apenas pensar em Abraão e na sua terrível provação consumada no monte Moriá com a inconcebível ordem divina relativa à morte sacrificial do filho.

 

Podemos também mencionar a luta noturna de Jacob com o Deus misterioso, oculto sob a forma de um ser forte, ou nos longos e atormentados acontecimentos vividos por Job, sempre pronto a acreditar em Deus.

 

Crer e amar são duas aventuras da alma que, no entanto, envolvem carne e sangue, inquietam mais que consolam, exigem antes ainda de dar, ferem e exaltam.

 

É por isso que devemos suspeitar de uma fé demasiado sossegada, que atenua toda a emoção, que não custa e não compromete em demasia, que é demasiado óbvia e não tem de combater com a dúvida. Mas é igualmente verdade que a fé é também serenidade e alegria.

 

Uma frase significativa de Carlo Bo (1911-2011), professor, crítico literário e senador, diz o seguinte: «Tenho a impressão de que a voz de Deus passa sobre os nossos corações e não deixa rasto. O consenso sem sofrimento que damos a Deus é apenas mais uma maneira, entre tantas, de não lhe responder».

 

 

[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]

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