Conselhos da sabedoria árabe e judaica para uma vida autêntica
«Se nunca caçaste, nunca amaste, se o perfume das flores nunca te atraiu e a música nunca te comoveu, não és um homem mas um tolo.» Recolho do livro "Fontes de sabedoria islâmica" este que é apresentado como um provérbio árabe.
Deixemos ficar a caça, que é um assunto que não me entusiasma, mas que podemos transcrever metaforicamente como símbolo da indagação humana e religiosa. Mas o distintivo aqui indicado entre o homem verdadeiro e o estulto é absolutamente partilhável.
De maneira essencial poderemos dizer que o que distingue a pessoa autêntica do homem ou da mulher banal, vulgar, superficial é o espanto. É a descoberta do mistério que se oculta na realidade do coração, da natureza, da arte, da religião.
Sem esta capacidade de intuição profunda, o coração permanece um músculo, a pessoa um organismo, a natureza um sistema de energias e dados físicos, a arte e a espiritualidade fenómenos improdutivos, destinados talvez aos sonhadores.
E no entanto é precisamente nestes valores que pulsa a verdadeira vida da humanidade, aquilo que dá sabor ao dia a dia, o que transfigura a matéria e a corporeidade. Sem uma gota de amor, sem o frémito da beleza, sem a palpitação da fé, sem a intimidade da contemplação, somos só coisas entre as coisas, bestas entre outras bestas.
E depois da sabedoria árabe, cito uma frase dos "ditos dos pais", uma espécie de condensado da sabedoria tradicional antiga de Israel: «É sábio aquele que aprende de cada homem. É forte aquele que domina a sua paixão. É rico aquele que é feliz com a sua sorte. É honrado aquele que honra os outros homens».
São quatro breves frases que delineiam o retrato da pessoa verdadeiramente madura e autêntica. É assim quem sabe aprender de cada encontro, o que requer humildade e respeito pelos outros para se estar aberto e disponível a descobrir inclusive na pessoa mais simples o seu brilho de luz e de verdade.
É-se verdadeiramente perfeito, depois, quando se tem a capacidade de se controlar a si mesmo: gritar, vingar-se, prevaricar não é mais do que sinal de impotência, de mesquinhez, de incapacidade de compreender as opiniões de terceiros e argumentar as suas.
Acumular bens incessantemente torna-se, no fim de contas, uma obsessão e uma maldição. O verdadeiro homem sereno pede a Deus para não lhe dar «nem miséria nem riqueza, mas só o alimento necessário» (Provérbios 30, 8).
Por fim, é do respeito pelos outros que nasce o respeito dos outros. Viver o ciúme, a calúnia, não é só indício de mesquinhez da alma mas também fonte de tormento e insatisfação.
A estes quatro conselhos juntamos outro do rabi Shlomo sobre a caridade: «Se queres erguer um homem do lodo e da lama, não penses que podes ficar no alto, contentando-te em estender-lhe uma mão. Deves descer tu também ao mesmo lodo e à lama para o agarrar com mãos fortes e reconduzi-lo a ti na luz».
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In "Avvenire"]