Dormir na igreja
«Alguns anciãos foram ter com o padre Poemen e colocaram-lhe uma interrogação: "Se virmos irmãos a dormitar durante a liturgia, quer que os sacudamos, para que fiquem acordados?". Ele respondeu-lhes: "Na verdade, se eu vejo um irmão que dormita durante a liturgia, coloco a sua cabeça nos meus joelhos e deixo-o repousar".»
O terrível Jonathan Swift, que além de ser o autor das “Viagens de Gulliver”, era também pastor anglicano, escreveu um pequeno ensaio irónico sobre como fazer dormir os fiéis durante uma pregação durante a tarde.
Pode acontecer que, sobretudo durante homilias longas e enfadonhas, as pálpebras se abaixem, e não com certeza para refletir melhor. É o que acontecia também aos antigos monges que viviam nas ásperas solidões do deserto egípcio, como é atestado pelo apólogo que tem por protagonista um dos mestres ou “padres” de então.
A lição do mestre é surpreendente na sua humanidade. Muitos trocam a ascese pelo masoquismo, confundindo a religiosidade com uma mera sequência de normas, imaginando a santidade como um distanciar-se da concretude para viver "angelicamente".
Em vez disso, nunca devemos esquecer a mansidão de Cristo, a sua paciência com discípulos não exatamente brilhantes na espiritualidade e na inteligência, a par de multidões unicamente desejosas de milagres e de pão.
Aquela cabeça que repousa sobre os joelhos do velho padre espiritual é o sinal da generosidade, da compreensão, da serenidade de uma alma verdadeiramente grande e capaz de amor.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]