A única medida do amor é amar sem medida
Qual é, na Lei, o mandamento maior? Sabiam-no todos em Israel: o terceiro, aquele que prescreve santificar o sábado, porque também Deus o tinha observado.
À pergunta de um dos escribas (cf. Marcos 12, 28-34), a resposta de Jesus, como habitualmente, surpreende e vai além: não cita nenhuma das dez palavras, mas coloca no coração do Evangelho a mesma coisa que está no coração da vida: amarás. Um verbo no futuro, como uma viagem que nunca acaba… que é desejo, expetativa, profecia de felicidade para cada pessoa.
O percurso da fé inicia com um «és amado» e conclui-se com um «amarás». No meio germina a nossa resposta ao cortejar de Deus.
Amarás Deus com todo o teu coração e o teu próximo como a ti mesmo. Jesus não acrescenta nada de novo: a primeira e a segunda palavra já estavam escritas no Livro. A novidade está no facto de que as duas palavras fazem uma só, a primeira. Tê-las separado é a origem dos nossos males, dos fundamentalismos, de todas as arrogâncias, do triste individualismo.
Mas amar o quê? Amar o próprio Amor. Se amo Deus, amo o que Ele é: vida, compaixão, perdão, beleza; cada fragmento de pão, um ato de coragem, um abraço confortante, uma intuição iluminadora, um ângulo de harmonia. Amarei o que Ele mais ama: o ser humano, de quem se orgulha.
Mas amar como? Colocando-se inteiramente em jogo. Deixando ressoar e agir a força do adjetivo «todo», proferido quatro vezes. O todo do coração, mente, alma, força. Nós pensamos que a santidade consiste na moderação das paixões. Mas onde é que está essa moderação na Bíblia? A única medida do amor é amar sem medida.
Amarás com todo, com todo, com todo… Fazer assim é já cura do ser humano, reencontrar a unidade, a convergência de todas as faculdades, a nossa plenitude feliz: «Escuta, Israel. Estes são os mandamentos do Senhor (…) para que sejas feliz» (Deuteronómio 6, 1-3). Não há outra resposta ao desejo profundo de felicidade do ser humano, nenhuma outra resposta ao mal do mundo a não ser só e só esta: amarás Deus e o próximo.
Para narrar o amor pelo próximo, Jesus presenteia a parábola do bom samaritano (Lucas 10, 29-37). Para indicar como amar Deus com todo o coração, não escolhe nem uma parábola, nem uma imagem, mas uma mulher, Maria de Betânia, «que sentada aos pés do Senhor, escutava a sua Palavra» (Lucas 10, 38).
Jesus viu que a maneira de escutar de Maria é a «melhor escolha», a mais capaz de descrever como se ama Deus: como uma amiga que se senta aos seus pés, sob a cúpula dourada da amizade, e escuta-o, fascinada, e não deixará cair uma só das suas palavras. Amar Deus é escutá-lo, como crianças, como enamorados.
[Ermes Ronchi | In Avvenire]