O ser humano como fim
«Age de maneira a tratar a humanidade, quer na tua pessoa quer na pessoa de qualquer outro, sempre ao mesmo tempo como um fim, e nunca simplesmente como um meio.»
Foi um dos pensadores máximos do Ocidente moderno, Immanuel Kant (1724-1804). Não é fácil percorrer os seus textos, ainda que algumas das suas frases se tenham tornado célebres: quem não recorda a do céu estrelado sobre nós e a da consciência moral dentro de nós?
Hoje escolhemos outra frase muito conhecida, extraída da “Fundamentação da metafísica dos costumes” (1785), uma advertência sempre válida, basilar para o respeito da dignidade de cada pessoa.
Naturalmente, ninguém quer com desfaçamento reduzir o outro a um escravo, considerando-o como puro instrumento de trabalho ou mercadoria de troca. Tudo isso parece pertencer a um passado sepultado. Infelizmente, no entanto, é só uma declaração de intenções, e não uma escolha operativa autêntica inclusive nos nossos dias.
E não apenas porque ainda há multidões de mulheres do Leste Europeu ou da África escravizadas nas nossas ruas: talvez sejam precisamente aqueles que se declaram cristãos a fomentar e alimentar essa escravidão, como fizeram outrora os senhores e os ricos latifundiários.
Há outra maneira mais subtil de reduzir a pessoa humana à servidão, que é a de condicionar a mente, os comportamentos e as escolhas, reduzindo-a a um sujeito que consome ou que pode ser manipulado de acordo com os próprios interesses.
É, portanto, necessário estar sempre atento e repetir a advertência de Kant a todos, aos políticos, aos responsáveis pela comunicação de massa, dos poderosos até àqueles que sentem a tentação de se prevaricar sobre quem está próximo de si.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]