À saída do túnel
«Quanta estrada é preciso percorrer para chegar a Ele! Quantas barreiras a abater para chegar àquele sol que intuo na outra vida, a verdadeira vida! A verdadeira Luz à saída do túnel.»
Em Portugal foi publicado pela Difel em 1990 e intitulou-se “A busca intermitente”. Nesse volume o famoso dramaturgo romeno-francês Eugêne Ionesco (1912-1994) recolhe, como num diário, o itinerário da sua “busca” de Deus, do sentido da vida, do ancoradouro cristão.
São páginas por vezes atormentadas, outras vezes irónicas, sempre sinceras. Escolhi poucas linhas emblemáticas para este mês tradicionalmente dedicado à memória dos defuntos. É um vislumbre do futuro que nos espera.
Por agora, temos diante de nós o caminho da vida, estrada repleta de obstáculos, de barreiras, de desvios, muitas vezes atravessada por túneis escuros que parecem não ter fim.
Mas no coração há uma certeza: no fim do percurso, abrir-se-á finalmente «a verdadeira Luz». Compreenderemos e contemplaremos já não «como num espelho, de maneira confusa; então veremos face a face» (1 Coríntios 13, 12).
É significativo que esta esperança floresça no espírito de um escritor que foi, por excelência, o autor do “teatro do absurdo”, convicto de que «o mundo moderno estava em decomposição» e que a única experiência era o do delírio e do vazio.
Às vezes parece-nos que também nós somos assim, espetros que vagueiam entre sombras, produtores de palavras vãs e ações vácuas.
Mas se procurarmos descer à profundidade, a estrada da vida tem uma direção e, se não nos bloquearmos por inércia ou auto-suficiência, à saída do túnel está aquela luz, está uma Presença, uma Pessoa que nos espera.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]