A lonjura dos dias
«O valor da vida não está na lonjura dos dias, mas no uso que deles fazemos. Uma pessoa pode ter vivido muito tempo, e todavia pouquíssimo.»
Recorremos a um autor que facilmente oferece motivos de reflexão mediante páginas marcadas pelo caráter lapidar e essencial. É dos “Ensaios” do famoso pensador francês Michel de Montaigne (1533-1592) que extraímos esta breve meditação sobre a vida nestes dias que são os últimos do ano.
Hoje, a existência humana alongou-se muito, mas não é por isso que podemos dizer que se vive mais, em sentido autêntico. Por vezes os idosos têm diante de si anos e anos de sobrevivência quase larvar, meramente vegetativa.
Mas isto vale também para muitos jovens ou para quem está na plenitude do vigor da maturidade. Pode-se, com efeito, simplesmente ser-se sem se ser verdadeiramente. O tempo cronológico é igual para todos, mas é bem diferente o conteúdo existencial que o preenche.
Efetivamente, há quem tenha à sua frente só dias vazios, «dias tristes e anos – como confessava Qohélet – de que devo dizer: não sinto neles prazer algum» (12, 1). E há, ao contrário, quem complete as suas horas de obras, pensamentos e afetos. Só assim se pode dizer verdadeiramente que se vive, e não apenas que se existe.
Rezemos, então, com as palavras do salmista: «Sacia-nos pela manhã com os teus favores, para podermos cantar e exultar todos os dias. Venham sobre nós as graças do Senhor, nosso Deus! Confirma em nosso favor a obra das nossas mãos; faz prosperar a obra das nossas mãos» (90, 14.17).
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]