Num parque de Paris
«Milhares e milhares de anos de tempo/ não contêm o minúsculo segundo de eternidade/ de quando me beijaste/ de quando te beijei/ numa manhã, na luz de um sol invernal,/ num parque de Paris,/ em Paris nesta terra/ que é uma estrela.»
A cena de dois enamorados que se beijam ternamente num parque, indiferentes ao passantes, ao sol e à chuvinha que cai sobre eles, apresenta-se muitas vezes aos olhos de todos.
Os versos do poeta francês Jacques Prévert (1900-1977), que, entre outros textos, escreveu canções muito intensas, procuram colher o coração do verdadeiro amor.
Quando ele é vivido em plenitude, o tempo dissolve-se e antecipa-se a eternidade: está-se como que imerso num instante perfeito e pleno, está-se do lado divino. Não é por acaso que S. João escolheu a definição teológica «Deus é amor» como a mais completa e essencial.
Naquele momento já não temes a morte e o mal; e a cidade buliçosa, mal cheirosa e sem graça que te rodeia torna-se como uma estrela.
É por isso que o amor autêntico é, de alguma forma, a prova da existência de Deus: é uma realidade tão perfeita e absoluta, capaz de criar e curar, de iluminar e transfigurar, de não ser um simples produto da nossa carne e da nossa psique, mas sobretudo capaz de revelar-se como um milagre, uma graça, um dom que vem do Alto.
É, então, necessário proteger esta realidade quando ela é infundida em nós, sem a sujar, sem a humilhar e dissolver. E este dom não é está apenas reservado aos enamorados, mas todos aqueles que se deixam atravessar pela luz de Deus.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]