Olhos novos
«As verdadeiras viagens de exploração não consistem em descobrir novas paisagens, mas em ter olhos novos.» E há uma canção que diz: «Às vezes, mais do que um mundo novo, é preciso olhos novos para ver o mundo».
A música de Cláudio Baglioni evoca uma página desse grande e copioso romancista que foi Marcel Proust (1871-1922) na frase primeiramente citada.
A intuição é feliz: as maravilhas no mundo são muitas, mas é preciso a maravilha do ser humano, isto é, a sua capacidade de ver e espantar-se, para as descobrir.
Há multidões de viajantes que dão a volta ao mundo com a objetiva fotográfica colada ao olho para capturar cada coisa, e que regressam sem ter admirado e compreendido nada das suas explorações em horizontes novos.
Assim acontece também para a vida. Se tens o olho superficial (e é naturalmente a visão da mente e do coração a estar em causa), só encontras à tua volta coisas e factos a possuir e atravessar.
Se, ao contrário, sabes penetrar com o olhar em profundidade, eis que se abrem diante de ti muitos segredos e mistérios, muitas belezas e surpresas.
E desta forma, por vezes aquela felicidade que amorosamente procuras e que consideras impossível, no fim de contas está ao alcance da mão, alterada a perspetiva, no quotidiano, nos acontecimentos e nas pessoas que talvez os teus olhos superficiais não vejam.
Há uma bela frase de Jesus que afirma: «Felizes os vossos olhos porque vêem e os vossos ouvidos porque escutam». Saber ver – e não apenas olhar – é uma arte, melhor, é uma escolha da mente e da vontade, e é isso que dá cor e sentido à vida.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]