Guerra santa
«A guerra santa é feita de dez partes: uma parte consiste em guerrear contra o inimigo, as outras nove estão na guerra contra si próprio.»
O termo árabe “jihad”, usado para indicar a “guerra santa”, tem na realidade uma génese “ascética”: denota, com efeito, antes de tudo, a luta contra si próprio.
É isto que nos ensina com aquele aforisma Sufyan ibn ‘Unaynah, grande mestre muçulmano que viveu em Meca, onde morreu em 814. Dele se diz que aos quatro anos sabia o Corão de memória e que vivia só de um pão ao dia.
Propus aquele seu moto porque se adapta bem à substância de toda a espiritualidade e à prática quaresmal, permitindo-nos também descobrir a genuína religiosidade do Islão, tantas vezes deformada por lugares comuns ocidentais e comportamentos insensatos de certos adeptos seus (minoritários mas turbulentos e, infelizmente, perigosos).
A eles (mas não só) poder-se-ia aplicar outra frase deste místico: «Um tempo em que as pessoas precisam de pessoas como aquelas, é um mau tempo».
Mas regressemos à advertência, sempre verdadeira e necessária, sobre o controlo de si, sobre o domínio das paixões, sobre a vitória em relação aos vícios.
Séneca tinha já declarado que «comandar-se a si próprio é a mais alta forma de comando». A ascese tem aqui o seu núcleo, e é um compromisso muitas vezes desatendido, na convicção de que são outros os deveres primários da espiritualidade.
«Vencer-se a si próprio é a mais bela vitória», dizia-se na antiguidade pagã. Esta deveria ser também a marca de uma moral cristã que tem em si motivações ainda mais altas para vencer orgulho e egoísmo.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]