Aparências e aparições
«Parece-me que hoje não se pode dizer que estamos num tempo de fé, mas mais de feitiçarias, não tanto tempo de confiança, mas tempo de medo.
Todos à procura de sinais, para encontrar refúgios, abrigos contra o pesadelo de obscuras ameaças; são tempos de grande espetáculo, de grandes paradas, mas de pouca verdade, tempo de aparências mais do que de aparições.»
Era a Quaresma de 1987, e o padre italiano David M. Turoldo subia à basílica do monte Berico, em Vicenza, para uma série de homilias. O trecho que escolhi foi extraído da primeira.
São palavras que se adaptam bem aos dias de hoje, feitos mais de banalidade do que de fé autêntica, de medo do que de esperança, de lugares comuns do que de verdade, de espetáculo mais do que de substância.
Em particular, gostaria de sublinhar a última contraposição, entre «aparências» e «aparições». O segundo termo deve ser assumido no seu sentido mais teológico e profundo, ligado aos encontros pascais do Cristo ressuscitado com os discípulos.
Não é, portanto, uma cena que tem como propósito o extraordinário, o prodigioso, o fenomenal, mas o desvelamento profundo de um mistério.
Nos nossos tempos televisivos, o «aparecer» é sobretudo o mostrar-se para impressionar, para enganar, para surpreender. E sabe-se que tudo isto é aparência, é realidade falsificada, arremedo e exterioridade.
O verdadeiro revelar-se de Deus e o autêntico testemunho do cristão são, ao contrário, uma epifania na qual se indica uma mensagem de vida, se revela uma verdade, se ilustra um caminho a seguir com rigor e na seriedade pessoal.
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]